Apetece cantar…
A Natureza prepara-se para
engrinaldar o mais agreste descampado, ao tecer a manta de cores variadas e de
fios entretecidos num cruzamento de finas rendas. A sua arte desperta no
momento maravilhoso em que os dias se tornam maiores e o Sol nos acaricia por
mais tempo.
Apetece olhar as vertentes
multicolores e deixar rolar os olhos, maravilhando o pensamento, e embevecer os
sentidos na luminosidade das cores, fitando o desabrochar deslumbrante dos
arbustos ou das plantas mais insignificantes.
Apetece subir ao palco pelos
carreiros e sentirmo-nos também uma flor na paisagem!
Apetece cantar o encanto de se ser
uma estrela numa constelação onde a luz não fere os olhos e esta repousa
embalada por uma canção onde as abelhas são todas mestras e os zangões são
todos tenores.
Apetece dilatar ao máximo permitido
o peito, aspirando o ar balsâmico e retemperar as forças gastas na travessia do
Inverno, sabendo que a barca condutora do nosso destino chegou sã e salva a um
porto acolhedor, tendo partido de um mar de sargaços.
Apetece rezar uma oração de amor à
Natureza, que se revela, cantando, a um mundo ferozmente arreigado no ódio,
quando a paz do monte prolifera e é um exemplo para ver, sentir e viver!
Apetece cantar…
E viver…
E acreditar que tudo, doravante, vai
ser diferente!
Que os homens vão acreditar, também,
entre si…
Apetece cair de joelhos sobre as pedras
duras, e ficar numa oração ardente a clamar a misericórdia do Alto para o mundo
louco dos homens, dando-lhe graças pela infinita beleza das cores do monte, na
esperança, que esta inunde um dia, os seus corações…
Por essa esperança, cantemos e
vivamos!
JC
Sem comentários:
Enviar um comentário