23 junho 2014

Vai um gin do Peter’s?

Portugal como destino turístico está na moda, segundo têm repetido os media da especialidade. Em concreto, Lisboa está no top 3 das metrópoles ocidentais mais procuradas por e mais recomendadas aos turistas.

Quem conhece a cidade do Tejo, sabe bem que por muito que se dominem os recantos mais recônditos da capital, há inúmeros lugares por desvendar, até porque vários deles não estão abertos ao público(1). Aqui vai um mini-guia a espaços lindos e cheios de história, que pouquíssimos terão visto, como antigos palacetes, hoje propriedade de embaixadas, serviços do Estado ou privados. A escolha desdobra-se em 2 gins, começando pelos mais acessíveis:

ARCO DA RUA AUGUSTA, junto ao Terreiro do Paço (aberto ao público, com elevador e lance de escadas até ao topo)



Designado por Arco do Triunfo, Arco Triunfal ou Arco do Triunfo da Rua Augusta conheceu a primeira versão logo após o terramoto de 1775. Em 1873 foi reedificado segundo o projecto do arquitecto Veríssimo José da Costa.
Na parte superior do arco, há esculturas de Célestin Anatole Calmels a representar a Glória, coroando o Génio e o Valor. No plano inferior encontram-se esculturas de Vítor Bastos, a representar Nuno Álvares Pereira, Viriato, Vasco da Gama e o Marquês de Pombal. Nas laterais estão representados os rios que delimitavam a região dos Lusitanos: o Douro e o Tejo. O texto inscrito no topo do arco alude à grande gesta da descoberta de novos povos e culturas: Às Virtudes dos Maiores, para que sirva a todos de ensinamento. (VIRTVTIBVS MAIORVM VT SIT OMNIBVS DOCVMENTO.PPD).

ACADEMIA DAS CIÊNCIAS, junto à rua do Século, ao Bairro Alto (visitável mediante marcação prévia)


As actuais instalações da Academia correspondem ao antigo Convento de Jesus. Criada em pleno Iluminismo (1779), durante o reinado de D.Maria I, começou por ser designada de Academia Real das Ciências, demarcando-se do regime do Marquês de Pombal e do estudo das humanidades, ao pretender valorizar o estudo das Ciências e das Belas Letras. Depois da implantação da República, passou a denominar-se Academia das Ciências de Lisboa.
No seu interior, salienta-se o magnífico Salão Nobre no espaço que antes albergara a biblioteca conventual. O salão vale pela decoração com pinturas no tecto assinadas por Pedro Alexandrino de Carvalho, o revestimento das paredes com estantes de talha dourada e a galeria que contorna a balaustrada. Vale também pelo valioso espólio, com cerca de 3000 manuscritos portugueses, árabes, espanhóis e hebraicos, uma colecção de livros desde o século XIV até seiscentos, além de possuir das mais completas séries de periódicos das áreas de Ciências e Humanidades.

 

PALÁCIO FOZ, nos Restauradores (permite visitas parciais, em concreto durante eventos abertos ao público)



Propriedade do Marquês de Castelo Melhor, a construção teve início em 1777 para substituir o palácio velho arrasado pelo terramoto. Ao longo do tempo acumulou diversas remodelações e mudanças de propriedade, que favoreceram a variedade de estilos, desde o rococó ao neo-gótico e neo-manuelino.
Nomeadamente a zona designada por abadia foi local de reuniões secretas da elite maçónica. Aliás, parte da decoração do palácio exibe símbolos esotéricos e figuras mitológicas, tendo servido de cenário a episódios do filme «Mistérios de Lisboa».

PALÁCIO RIBEIRO DA CUNHA, no Príncipe Real (aberto ao público, com zona comercial e restaurante no interior)



O seu estilo neo-mourisco, do período do Romantismo, tornam-no num dos edifícios mais emblemáticos do Príncipe Real. 
Actualmente, a sua fachada tão característica está encoberta por um taipal que esconde as obras de remodelação em curso. Datado de 1877, começou por ser residência privada, com jardim no lado nascente.
  

CAPELA DE SANTO AMARO, na colina em Alcântara (permite visitas, quando abre ao culto)



Fundada em 1549, foi dedicada a Santo Amaro, por lhe ser atribuído o milagre de salvamento de um barco em vias de naufragar, que ali conseguiu aportar.
Dotada de uma arquitectura rara, em forma circular, tem as paredes forradas de magníficos azulejos policromados, do século XVII, que aludem ao episódio do naufrágio iminente, assim como às curas de pernas e braços partidos atribuídas a este Santo. No remate exterior sobressaem as portas num rendilhado assombroso em ferro forjado, de onde se tem uma vista panorâmica sobre o Tejo.

 

IGREJA DAS MERCÊS, no Largo de Jesus, entre S.Bento e o Chiado (visitável logo após a missa dominical do meio-dia)



Num largo que se avista durante o percurso do eléctrico 28, na base da colina do Chiado, o monumento data do século XVII. Ligado ao Convento de Nossa Senhora das Mercês, é especialmente notável o seu conjunto azulejar na Sala da Irmandade (hoje chamada Sala de Passagem), de 1714. A abóbada está integralmente forrada de azulejos, inspirados na temática das Litanias da Virgem, pintados por um dos mestres do barroco – António de Oliveira Bernardes.


SALÃO POMPEIA NO PALÁCIO DOS CONDES DA EGA, na Calçada da Boa hora /Ajuda (visitável com marcação prévia)



Datado do século XVI, alberga o Arquivo Histórico Ultramarino, desde 1931. No século XVIII foi remodelado, incluindo a construção do Salão Pompeia, enriquecido com frescos, magníficas colunas e 8 painéis de azulejos holandeses onde figuram os principais portos europeus. Inclui ainda uma estátua de Apolo, o deus da música, pois era a sala destinada aos concertos de câmara.
Durantes as Guerras Napoleónicas, foi a morada do General Junot, amante da Condessa da Ega. Mais tarde, a condessa casou-se com o conde Stroganov e mudou-se definitivamente para S.Petesburgo. Nos seus domínios de Lisboa descobriu a receita do cozinheiro do conde russo, que se celebrizou como estrogonofe.
  
Percebe-se que uma cidade com perto dois milénios de vida intensa guarde muitos e bons segredos. As próximas sugestões vão daqui a 15 dias.

Maria Zarco
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 (1)  Levantamento feito a partir das escolhas de www.lisbonlux.com/magazine/lisbon-behind-closed-doors-10-secret-interiors/

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