14 abril 2015

Duas últimas

Esta semana sou mais hortas, como o outro era mais bolachas. E há o trabalho, e há o mestrado, e há o seminário de letristas e há a idade, e há o excesso de peso, e há uma insónia porque me esqueci de agendar uma coisa importante, e há mais isto e há mais aquilo. Não me queixo, mas falece-me a inspiração, o que é que querem...

Deixo-vos com Capicua, sugestão dos meus filhos. Não ouvi, não sei o que é. Podia dizer que o estabelecimento está arrojado, imprevisto, heterogéneo, moderno. Infelizmente não é nada disso. É a horta, sabem... 

JdB



Quero uma casa no campo como Elis Regina,
plantar os discos, os livros e quem sabe uma menina,
por mim até podem ser mais, um amor como os meus pais, 
os dias como os demais, sem serem todos iguais.
Casa no campo com a porta sempre aberta
deixar entrar amigos, partir à descoberta
ter a minha cama grande, a colcha predilecta
e um cão desobediente em cima da coberta.
Quero uma casa completa, um pedaço de terra,
e com o espaço quero o tempo para adormecer na relva, 
longe da selva de cimento, eu acrescento
que quero cultivar mais do que mero conhecimento.
Quero uma horta do outro lado da porta
e quero a sorte de estar pronta quando a morte me colher. 
Quero uma porta do outro lado da morte,
ter porte de mulher forte quando a vida me escolher. 
Quero uma casa no campo que cheire a flores e frutos,
a gomas e sugus, a doces e sumos,
cozinhar para quem quer comer, comer como sei viver,
com apetite já disse que não quero emagrecer.
Comer de colher sopa, fazer pão, estender a roupa,
faço pouco das bocas que dizem para crescer,
eu quero rasgar janelas nas paredes cujas pedras 
carregar com as mãos que uso para escrever.
Casa no campo com lareira e fogo brando,
que ilumine todo o ano, o sorriso de quem amo,
quero uma casa no campo que pode ser na cidade,
mas tem de ser de verdade, mesmo não tendo morada...

Onde é que aprendeste o que é o infinito? 
Foi na contracapa de um livro da Anita. 
Diz-me qual é o teu perfume favorito... 
Pão quente, terra molhada e manjerico!

Anda viver comigo, colamos o nosso umbigo
e não passaremos frio, no nosso lugar estranho...
Um filho, um livro, um disco, uma árvore.

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa escolha musical!

Anónimo disse...

Oh vizinho, tem um raminho de salsa ?.
Cuidado com as cruzes, que Vossemecê está mais habituado a lidar com as outras.

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