30 outubro 2018

Do ano de 1958

No que toca aos meus amigos, completa-se amanhã a safra dos que nasceram em 1958 e, por isso, completam agora 60 anos. A menos que a minha memória esteja falha. o que é uma forte possibilidade, e nesta ideia tão modernamente importante dos géneros, amanhã desejarei os parabéns a uma amiga que é da minha idade, hoje ainda darei os parabéns ao último dos meus amigos que é da minha idade. Até ao final do ano fecho as festividades.

Não sei o que é fazer 60 anos, embora os tenha feito em Janeiro. Não me parece que haja muita diferença para o ano em que fiz 59, talvez não haja diferença quando, daqui a dois meses e meio, fizer 61. Sei que há pessoas que ficam deprimidas por passarem a ser sexagenários, embora me pareça que vivamos ainda com uma ideia feita - a de que ser-se sexagenário é sintoma de velhice. No meu caso, se cumprir a esperança de vida dos meus progenitores, ainda me esperam 30 anos a maçar o próximo. 

Não sei se envelheci mal. Sei que refinei características, talvez tenha refinado defeitos e me tenha tornado pior do que era. Mas a velhice trouxe-me coisas boas: a noção da importância da serenidade ou de não arranjar conflitos desnecessários, a vantagem de poder dizer que não sei ou não condigo fazer; a não perseguição de uma carreira, a experiência de vida, uma ideia mais certa - ainda que nem sempre posta em prática - daquilo que está certo ou errado. Os 60 anos deram-me a tranquilidade de já não ter de construir uma pose. Infelizmente, os 60 anos mataram um pouco a minha memória, tornaram-me mais lento nisto ou naquilo, tiraram-me resistência ou raciocínio em áreas novas. Mas, no global, não consigo dizer que a velhice só me deu problemas. Deu-me alguns, seguramente, mas também me deu muitas coisas boas.

Ter 60 anos pode não ser mais do que ter 60 anos. Não quero recorrer ao lugar comum de dizer que a idade é mental, mas quero dizer que a velhice nos dá muitas coisas - e talvez desse mais se usássemos o passado como aprendizagem do que não repetir. 

Para quem faz hoje 60 anos, um grande abraço de parabéns. Que a idade lhe seja fagueira, que consiga ver o bom desta etapa da vida, que não se deixe prender por temores exagerados de efemeridade ou de fim das coisas. Que goze a vida, que permita que os outros a gozem consigo. No fundo é isto.

JdB 

1 comentário:

Anónimo disse...

Fazer 60 anos é passar da categoria de “jovem velho” para a de “velho jovem” ..Partamos pois de flor ao peito.Viva o nosso 1958
ATM

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