Lembro o seu vulto, esguio como espectro,
naquela esquina, pálido, encostado!
Era um rapaz de camisola verde,
negra madeixa ao vento.
Boina maruja ao lado…
De mãos nos bolsos e de olhar distante
jeito de marinheiro ou de soldado…
era um rapaz de camisola verde,
negra madeixa ao vento,
boina maruja ao lado.
Quem o visse, ao passar, talvez não desse
pelo seu ar de príncipe, exilado
na esquina, ali, de camisola verde,
negra madeixa ao vento,
boina maruja ao lado…
Perguntei-lhe quem era e ele me disse:
— sou do monte, senhor! E seu criado…
pobre rapaz de camisola verde,
negra madeixa ao vento,
boina maruja ao lado.
Por que me assaltam turvos pensamentos?
Na minha frente estava um condenado?
— vai-te! Rapaz de camisola verde,
negra madeixa ao vento,
boina maruja ao lado!
Ouvindo-me, quedou-se, altivo, o moço.
Indiferente à raiva do meu brado,
e ali ficou, de camisola verde,
negra madeixa ao vento,
boina maruja ao lado…
Ali ficou… e eu, cínico, deixei-o
entregue à noite, aos homens, ao pecado…
ali ficou, de camisola verde,
negra madeixa ao vento,
boina maruja ao lado…
Soube eu depois, ali, que se perdera
esse que, eu só, pudera ter salvado!
Ai! Do rapaz de camisola verde,
negra madeixa ao vento,
boina maruja ao lado!
Pedro Homem de Mello
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