Disclaimer: este post não é sobretudo sobre política.
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Alcácer do Sal, Janeiro de 2021 |
Sou um espectador televisivo relativamente típico: vejo televisão para me instruir e para me distrair. Entre ambos os extremos do intervalo cabe muita coisa: a pandemia no mundo, arte, o protocolo na corte inglesa, música clássica, algum desporto, programas culturais, série televisivas, informações sobre o setter inglês, bocados de novela ou programas de cozinha. Por isso - porque me interessa a instrução e a distracção tenho visto pouco, e com menor interesse ainda, os debates para Presidente d(est)a República. Na verdade, aprende-se pouco, e o nível de entretenimento anda pela mesma medida.
Parte substantiva dos meus amigos (mais eles do que elas) votará André Ventura, depois de terem votado Marcelo Rebelo de Sousa (ou, não o tendo feito, estando politicamente mais próximo dele). Querem dar um sinal claro: não votam Marcelo por aquilo que ele não disse; e votam Ventura por aquilo que ele diz. Até agora nada disto causa muito espanto; o voto útil ou de protesto sempre existiu; nem sempre se vota naqueles de quem se gosta, mas naqueles que passam uma mensagem que nos é importante num dado momento.
Ora eu, que tenho um apego verdadeiramente lamentável por aquilo que não interessa a ninguém, ou que olho para onde ninguém olha, acho curioso este facto. Na verdade, nunca as sondagens tiveram uma importância tão grande: é com base no que se pensa estatisticamente que vai acontecer que os meus amigos votam em André Ventura: não votam em Marcelo mas contam que ele ganhe; votam em Ventura mas contam que ele não ganhe. Querem que Marcelo ganhe, mas que tenha poucos votos; e querem que Ventura perca, mas que tenha muito votos.
Em bom rigor, ninguém dos meus amigos quer ver Ventura como presidente, limitando-se a agradecer o que ele diz sobre a esquerda, os ciganos, os corruptos. Alguns dos meus amigos fazem um apelo claro ao voto no ex-comentador de futebol; confiam, no entanto, que a sua capacidade de persuasão seja limitada. E confiam no bom senso do povo português - de que eles não fazem parte. Afinal, se toda a gente pensasse como os meus amigos, o Ventura seria o próximo Presidente d(est)a República. Os ciganos não gostariam, mas os meus amigos também não.
Por último, leio que o CDS vai processar as empresas de sondagens, que vaticina ao partido centrista uma existência efémera; não devem fazê-lo, porque são elas que garantem que Marcelo ganha, mas por poucos votos e que Ventura perde, mas com muitos votos. No fundo no fundo, são estas empresas que nos garantem um certo futuro.
JdB
1 comentário:
muito bem visto e tendo a concordar consigo.
Eu, esta pessoinha que nunca votou Marcelo e que sempre duvidou das suas intenções políticas e qualidades pessoais, vai votar depois de perceber o que será mais vantajoso para destabilizar esta mesma lenga lenga improdutiva e corrupta que nos governa há 40 anos.
Aguardo ansiosamente as sondagens.
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