ALEGRIA PARA LÁ DA DOR EM CANÇÃO
Impressionou o júri de programa televisivo America’s Got Talent e já se tornou viral nas redes sociais, quer pela sua voz cristalina com o timbre de uma Sinead O’Connor, quer pela beleza da composição original, quer por aquilo que hoje chamamos de “atitude”! Percebe-se que é habitada por uma grandeza muito comovente.
Não sabemos quanto tempo é dado viver a esta artista anónima que, aos 30 anos, tem um cancro espalhado pelo corpo e 2% de hipóteses de viver. Mas, como ela clama com um sorriso profundo – «2% não é zero»! Transborda de uma alegria sincera e cheia de frescura, para lá do sofrimento e da pesada proximidade da morte.
Em palco, era uma figura magríssima e de indumentária descontraída, maximamente simples, como se guardasse a ousadia dos teenagers. A primeira troca de palavras com o júri foi arrebatadora e resultou num dos episódios marcantes do concurso de música mais famoso do mundo, depois do Festival da Eurovisão. No rol de FAQs do costume, teve de explicar que não tinha emprego, por ter um cancro, desde há anos. Já ia na terceira recidiva e o diagnóstico recebido no Ano Novo de 2019 dera-lhe 6 meses de vida. O júri ficou embaraçado e Howie tomou a palavra para a confortar, dizendo que ninguém adivinharia que ela estava doente. Nightbirde (nome artístico) agradeceu, mas subiu a parada e respondeu-lhe num comprimento de onda já escatológico, apontando para as razões mais profundas para se ser feliz. Para decidirmos ser felizes: «Thank you. It's important that everyone knows that I'm so much more than the bad things that happen to me. (…) You can't wait until life isn't hard anymore before you decide to be happy.»
Explicou também por que no mundo artístico não usa o seu nome Jane Marczewski mas Nightbirde, inspirada nos sonhos que teve com pássaros a cantar-lhe à janela, para a acompanhar durante a noite. À terceira vez, o sonho tornou-se realidade e umas aves notívagas (“nightbird”) e canoras vieram encher-lhe a noite de música, que é das suas maiores paixões. Achou tão especial aquele flash de festa a animar a escuridão do lado de fora da janela, que quis levar o mesmo rasto de luz aos outros, sobretudo a quem se sinta mais só e impotente. Explicou: «The birds were singing as if it was morning but there was really no sign of the light yet. And I wanted to embody that. Being somebody that could sing through a dark time because I was so full of hope and assurance that there would be a morning.»
Em entrevistas e, resumidamente, no tal concurso norte-americano, tem explicado o seu percurso, recuando aos anos da juventude em que suspendeu a música (durante 3 anos), para se dedicar a Deus. Precisava de recuperar da revolta interior em que se afundara, ao perder o amor próprio. Em 2017, soube que tinha um cancro feroz. A recidiva de 2019 anunciou-lhe 2% de hipóteses de sobrevivência. Nesse ano, o marido abandonou-a. Depois de acumular tanta dor, a presença dos pássaros cantores avivou-lhe o hobby preferido e voltou a compor árias. É nessa fase de provação que a sua fé cristalina e vigorosa mais brilha, voltando-se e confiando mais no Pai: «I believe that God can heal in one instant. I also believe that ‘no good thing does he withhold,’ so there was something God was growing in the field that is me, and if God had pulled up all of this hardship too soon, it would have also pulled up all these miracles he did in my spirit» (publicado no Liberty Journal).
O título da canção, que compôs e interpretou em America’s got Talent, condensa o seu último ano de vida, com um título auto-explicativo: «IT’S OKAY». A sua homenagem à vida em forma de música lava todas as lágrimas. Percebe-se por que aquele hino de esperança tem estado em primeiro lugar no concorridíssimo US iTunes:
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