12 julho 2022

Da arquitectura

 A arquitectura / decoração interessa-me por vários motivos - nenhum deles muito relevante: a minha tese de doutoramento, cuja velocidade coloca o caracol na categoria de corredor de velocidade, aborda o tema da arquitectura; a ideia de decoração cruza-se na minha vida, porque vivo em casas onde é preciso decidir onde se põem os quadros, as cómodas e as pratas, quando as há; por último, cruzo-me com pessoas que falam disso, porque há um estilo de decoração que se prende com um estilo de vida. A decoração já não é apenas estética - é uma filosofia de vida.

Sinto que estou rodeado de pessoas que afirmam querer vidas cleans, isto é, despojadas, simples, felizes. Sinto que estou rodeado de pessoas que querem casas cleans, isto é despojadas, com cores claras e relaxantes, cheias de espaços vazios e paredes desnudas. No fundo, uma depuração muito grande ou, para usar uma expressão do arquitecto Mies van der Rohe, uma arquitectura de pele e osso

Não gosto de decorações depuradas. A ideia de casas vazais deprime-me; a ideia de leveza cansa-me. Enquanto Mies usava a expressão less is more para designar o seu estilo, Robert Venturi, um arquitecto nos seus antípodas, afirmava que less is bore. Tendo a concordar. 

Ceio sábado com amigos. Fala-se de casas, de arquitectura, de decoração. Alguém afirma que de uma casa clássica se consegue fazer uma casa moderna, mas que a inversa não é verdadeira. Na verdade, de uma casa moderna não se faz uma casa clássica. O argumento pretendia defender a ideia de que as casas modernas são menos versáteis. Já no fim da conversa, alguém afirmou: estas casas moderna, muito despidas, muito depuradas, não têm alma

Sei relativamente bem o que está por trás do meu desejo de casas cheias, de paredes repletas da sanca ao rodapé. Mas também sei que esta depuração em excesso, a utilização de cores muito claras, muito descansativas, acaba por fatigar. Se for verdade a afirmação do parágrafo anterior, quem gosta de viver numa casa sem alma?

JdB

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