O céu de Punta Cana, Novembro de 2022 |
O céu de Punta Cana, Novembro de 2022 |
Fotografias e esculturas
Vejo um filme onde alguém afaga, saudoso uma fotografia. Talvez lhe aponha um beijo. Enternece-nos esta possível saudade de quem partiu, seja qual for o destino. Algumas cenas depois, alguém conversa com uma estátua. Achamos graça a esta espécie de loucura, ou de demência. Falar com uma estátua? Depois talvez percebamos que não há diferença entre afagar uma fotografia ou conversar com uma estátua. A demência, a haver, é a mesma.
Netflix
"Em conversas francas com o ator Jonah Hill, o aclamado psiquiatra Phil Stutz explora as suas experiências da juventude e o seu ímpar modelo visual de terapia." Vale a pena ver este documentário.
Goethe e os óculos (tradução minha, do inglês)
É sabido que Goethe não é amigo de óculos.
“Pode ser um mero capricho meu”, disse ele em várias ocasiões, “mas não consigo ultrapassá-lo. Sempre que um estranho se aproxima de mim com óculos no nariz, sou tomado por um sentimento dissonante que não consigo dominar. Isto aborrece-me tanto que, no limite, me retira grande parte da benevolência e me arruina os pensamentos, impossibilitando um desenvolvimento natural, sem constrangimentos, da minha própria natureza. Dá-me sempre a impressão de desobligeant, como se um estranho me dissesse algo rude no primeiro contacto.
(...)
Parece-me sempre que para os estranhos sou o objecto de um exame rigoroso, e é como se, com os seus olhares armados, eles penetrassem nos meus pensamentos mais secretos e espiassem cada ruga do meu velho rosto. Mas, ao mesmo tempo que se esforçam por conhecer-me, destroem qualquer igualdade justa entre nós, pois impedem-me de conhecê-los. Na verdade, o que ganho com um homem cujos olhos não posso ver enquanto ele fala, e cujo espelho de alma me está velado por um par de óculos que me ofuscam?
Se um dia quisermos perceber de onde vem a ideia de olhos nos olhos, temos aqui a resposta. Olhos nos olhos não é olhos nos óculos.
JdB
Sem comentários:
Enviar um comentário