No momento de maior dificuldade da minha vida pessoal e profissional, um amigo de longa data escrevia-me, referindo a tranquilidade dos nossos 18 anos, quando os grandes dramas passavam pela ignorância do que faríamos naquela noite. Era uma altura idílica de inexistência de sofrimentos sérios, compromissos difíceis, prazos apertados, responsabilidades incómodas.
Sem que houvesse uma justificação especial - ou se calhar há, muito lá no fundo de mim mesmo - recuei ainda mais na vida e vi-me numa garagem de amigos, no Algarve ou no Estoril, numa altura em que se pedia às amigas para dançar. Alguém punha um slow e nós, rapazes ingénuos, precipitavamo-nos para a rapariga dos nossos encantos, num frémito de emoção porque ela se deixava apertar (o que quer que isso significasse), encostava a sua cabeça ao nosso ombro, deixava que passássemos uma mão pelo cabelo. Era a idade da inocência.
Deixo-vos com o Leonard Cohen, estático e igual a si próprio. No fundo, no fundo, não é ele que está a cantar - é o desejo que cada um tem de repor as condições iniciais, de regressar a uma juventude tranquila, sem problemas de maior a não ser o que fazer à noite.
Bons slows - com a vossa mulher, marido, namorado /a, companheiro/a, amigo/a. Ou com a vossa lembrança.
1 comentário:
De algum modo, estas suas últimas mensagens tem-me tocado particularmente, talvez porque a altura o propícia e a cada esquina, tropeço com coisas, imagens, músicas que me devolvem à minha condição e me mostram que a fragilidade e insegurança ainda não se foram...
[No tempo em que os dias eram meus
deitava-me ao relento abandonada
preocupada com tudo
que é coisa nenhuma
com tempo para acontecer
mas sem fazê-lo
perdida na frustração de existir
sem saber ser
e embrulhada em sonhos puéris.]
AS MELHORES VIAGENS SÃO, POR VEZES, AQUELAS EM QUE PARTIMOS ONTEM E REGRESSAMOS MUITOS ANOS ANTES
Agora pergunto eu, brother of mercy :
-Como se volta aquilo que não te teve?
-Como se retorna às doces e vívidas lembranças de juventude, ao vazio de uma etapa?
Não torna, não vale a pena tornar. Deixa-se lá ficar arrumado no sotão da lembrança, a empoeirar com o passar dos anos, e deseja-se (e propicia-se) que a juventude dos filhos, seja mais viva e rica de memórias e emoções (positivas sobretudo).
So Long JB
( vou tentar repor as energias "iniciais"... )
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