Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de Católico…
Alturas há, na vida de cada um de nós, em que queremos romper com o que está, com o que é, com o que se vive – seja qual for a razão. Queremos eliminar um passado ou um presente para construir o que pensamos ser um futuro melhor. Para estas decisões radicais – no sentido extremista do termo – é preciso revestirmo-nos de uma certa dose de coragem, audácia, destemor, disponibilidade e força para enfrentar e quebrar círculos que nos são importantes: os amigos, a família, os nossos valores sociais e códigos de princípios, aquilo a que fomos levados a acreditar ao longo de uma vida. Temos essa energia e determinação dentro de nós? Estamos dispostos a uma guerra com os outros ou connosco próprios? E se sim, em nome de quê? E se não, será que não é o corpo e a alma a enviarem sinais de impedimento para decisões fracturantes, o astrólogo que todos somos a precaver-se contra realidades que prevê sombrias? O nosso processo de escolha nem sempre é linear. Quantas vezes escolhemos porque queremos, mas quantas vezes o fazemos para agradar a alguém, no intuito de irritar um terceiro, ou porque temos a ilusão de que essa escolha será uma varinha de condão que eliminará os fantasmas recostados no nosso travesseiro? As nossas opções estruturais, aquelas que condicionam e marcam indelevelmente a nossa vida deveriam ser feitas, tanto quanto possível, em nome de uma vontade genuína, de um querer sadio, de um gosto pensado, de um estender de braços todo feito de sorrisos para o porvir. Uma decisão importante mas precipitada é como uma manta curta – tapam-se os pés, mas falta para a cabeça, sendo que a inversa também pode ser verdadeira. Mais cedo ou mais tarde a nudez forte do desconforto virá ao de cima, porque não há pano suficiente para nos abrigar da intempérie que se aproxima. E então, se escolhemos contra qualquer coisa, talvez assinemos, cada um de nós, a crónica de um falhanço anunciado. Penso já ter dito esta frase aqui, mas gostaria de a repetir: em altura complicada da minha vida, voz amiga disse-me: o tempo não cura nada; o que cura é a qualidade do tempo; o povo refere, na sua sabedoria - embora de uma forma mais crua - que as cadelas apressadas dão à luz crias cegas. Mais ou menos bonita, ambas as frases me remetem para o mesmo pensamento: o khronos, o espaço que dou na minha vida para que as minhas decisões mais importantes sejam maturadas, avaliadas, não tirando nunca o gosto do improviso, do surpreendente, da aventura. Talvez o mundo de hoje, a sociedade dos nossos dias, nos atire para a necessidade de estarmos certos, de não nos enganarmos, de termos certezas sólidas sobre o que decidimos. Mais do que isso, não nos sentimos à vontade para reconhecer o erro, a resolução mal tomada, a vontade, tantas vezes, de voltar atrás. Somos vencidos pelo orgulho, pela arrogância, pela incapacidade de dizer: enganei-me. E, se esse momento por acaso chegar e nós o enxotarmos como se afasta um insecto incómodo, nunca teremos a sensação libertadora da humildade, a pacificação interna de quem se reconhece falível, imperfeito - ainda que esforçado. Talvez o futuro não seja mais do que a linha do horizonte: à medida que nos aproximamos ela afasta-se, como quem diz: ainda tens de caminhar muito para me tocar. Que futuro é que perseguimos na vida? Termino lembrando alguém que interpretava poeticamente textos que são maiores do que nós, e que afirmava a certeza de que o braço da compaixão é maior do que o da justiça.
Alturas há, na vida de cada um de nós, em que queremos romper com o que está, com o que é, com o que se vive – seja qual for a razão. Queremos eliminar um passado ou um presente para construir o que pensamos ser um futuro melhor. Para estas decisões radicais – no sentido extremista do termo – é preciso revestirmo-nos de uma certa dose de coragem, audácia, destemor, disponibilidade e força para enfrentar e quebrar círculos que nos são importantes: os amigos, a família, os nossos valores sociais e códigos de princípios, aquilo a que fomos levados a acreditar ao longo de uma vida. Temos essa energia e determinação dentro de nós? Estamos dispostos a uma guerra com os outros ou connosco próprios? E se sim, em nome de quê? E se não, será que não é o corpo e a alma a enviarem sinais de impedimento para decisões fracturantes, o astrólogo que todos somos a precaver-se contra realidades que prevê sombrias? O nosso processo de escolha nem sempre é linear. Quantas vezes escolhemos porque queremos, mas quantas vezes o fazemos para agradar a alguém, no intuito de irritar um terceiro, ou porque temos a ilusão de que essa escolha será uma varinha de condão que eliminará os fantasmas recostados no nosso travesseiro? As nossas opções estruturais, aquelas que condicionam e marcam indelevelmente a nossa vida deveriam ser feitas, tanto quanto possível, em nome de uma vontade genuína, de um querer sadio, de um gosto pensado, de um estender de braços todo feito de sorrisos para o porvir. Uma decisão importante mas precipitada é como uma manta curta – tapam-se os pés, mas falta para a cabeça, sendo que a inversa também pode ser verdadeira. Mais cedo ou mais tarde a nudez forte do desconforto virá ao de cima, porque não há pano suficiente para nos abrigar da intempérie que se aproxima. E então, se escolhemos contra qualquer coisa, talvez assinemos, cada um de nós, a crónica de um falhanço anunciado. Penso já ter dito esta frase aqui, mas gostaria de a repetir: em altura complicada da minha vida, voz amiga disse-me: o tempo não cura nada; o que cura é a qualidade do tempo; o povo refere, na sua sabedoria - embora de uma forma mais crua - que as cadelas apressadas dão à luz crias cegas. Mais ou menos bonita, ambas as frases me remetem para o mesmo pensamento: o khronos, o espaço que dou na minha vida para que as minhas decisões mais importantes sejam maturadas, avaliadas, não tirando nunca o gosto do improviso, do surpreendente, da aventura. Talvez o mundo de hoje, a sociedade dos nossos dias, nos atire para a necessidade de estarmos certos, de não nos enganarmos, de termos certezas sólidas sobre o que decidimos. Mais do que isso, não nos sentimos à vontade para reconhecer o erro, a resolução mal tomada, a vontade, tantas vezes, de voltar atrás. Somos vencidos pelo orgulho, pela arrogância, pela incapacidade de dizer: enganei-me. E, se esse momento por acaso chegar e nós o enxotarmos como se afasta um insecto incómodo, nunca teremos a sensação libertadora da humildade, a pacificação interna de quem se reconhece falível, imperfeito - ainda que esforçado. Talvez o futuro não seja mais do que a linha do horizonte: à medida que nos aproximamos ela afasta-se, como quem diz: ainda tens de caminhar muito para me tocar. Que futuro é que perseguimos na vida? Termino lembrando alguém que interpretava poeticamente textos que são maiores do que nós, e que afirmava a certeza de que o braço da compaixão é maior do que o da justiça.
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