17 outubro 2009

Ide Bloyeurs, espairecer


Toma-se a estrada da Beira e onde o Alva e o Alvoco se misturam, sobe-se à Aldeia das Dez. É lá que se encosta essa quinta. Sete hectares viçosos.

É já crescido na vida de hotel rural. Fez onze anos que a Quinta da Geia abriu ao turismo. Uma história diferente, gente de fora, um outro jeito de receber. Holandeses, são holandeses os proprietários que adquiriram o que restava desta casa agrícola beirã e a dotaram a este fim. Homens, são homens, esses holandeses que em anos idos escolhiam Portugal para férias e a cada vinda sentiam-no um “país intrigante”.
- Intrigante Fir?!
- Sim. Não em Lisboa ou no Porto… as cidades são todas iguais. Entre Lisboa e Amesterdão, não há grandes diferenças. No meio rural, claro.
Acabei sem informações exactas sobre que “intrigas rurais” inspiraram Fir a escrever aquela frase.
A Aldeia das Dez é património qualificado de histórico, fixou 10 famílias na sua origem, e viveu na dependência desta casa agrícola da Geia desde o século XVIII. Era a fruticultura a grande aposta e, em 1974, a fama tinha sabor a morango. Vinham daqui os primeiros que apareciam no mercado. Assim se garantiu a aldeia de pão e trabalho, mas a democracia inverteu a vida das gentes, porque a quinta se viu sem rei nem roque. Quando Fir e Frenkel a encontraram, pouco havia. Terra em socalcos, vista para o vale, uma quinta de velho, uma casa em ruína. Era Primavera, a de 1994. Feita a escritura, colabora a tutela na aprovação do projecto de reconstrução e na concessão de um subsídio, e adjudica-se a obra a um empreiteiro local. “Em apenas dois anos o senhor José Ramiro de Alvôco das Várzeas, foi capaz de nos entregar um fantástico hotel. Até os mais pequenos detalhes e acabamentos se encontram perfeitos. E também agora, após anos, não demonstra nenhuma falha.”
… de Alvôco das Várzeas. Dos campos férteis da margem do rio. Intrigante de facto.
Nem falha, nem fuga, nem erro. Por dentro, o hotel é uma beleza. Muito português, muitas vezes imperial europeu, holandês, pois claro, em belos móveis. Rústico e clássico. Aqui velho, ali contemporâneo. Acolá uma época, ao lado outra. Agnóstico e religioso. Fir compra, compra, compra. Carrega, traz, restaura e põe no sítio certo. Encheu a sua planta, inteligentemente traçada e indecifrável numa só corrida, de objectos magníficos, uns de grande valor artístico, outros vivendo só da alma. Fir não despreza uma peça, entende-se com muitos canais do sentir. E consegue levar o conforto à alma.
Sempre gostei da gente da Beira. Sempre me pareceu o povo mais anfitrião da nossa terra. E dão-no aqui à Geia. Genuína e intensamente. Os holandeses captaram-no.
Falei de Fir, o advogado. Ele é mais do hotel, do jardim, da piscina, das relações públicas. Frenkel é o chef e à ementa dispensa o tempo. O seu restaurante “João Brandão” (um fidalgo que deu brado) reúne fregueses vindos de todo o lado. Frenkel tem parança quando a noite cai, entre “submarinos”, cerveja e aguardente directa no estômago. O restaurante é a alegria. Tem hóspedes serenos que jantam, amigos da aldeia que vêm para café, empregados que ainda não se lhes deu a vontade de seguir a casa, tem conversas fáceis e eruditas, pipas de vinho, rótulos de prestígio, e sempre este tráfico de vida sobre digníssimos registos musicais. Cesária, Callas, Piaf, Amália, Marisa, Pavarotti, Boccelli, Glenn Gould, Nat King Cole, Rod Stewart, Brian Ferry...

Hotel Rural Quinta da Geia
Aldeia das Dez, Oliveira do Hospital
http://www.quintadageia.com/

DaLheGas

1 comentário:

Anónimo disse...

que comentário tão giro! dá imensa vontade de lá ir! obrigada. pcp

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