06 outubro 2009

Lar doce lar

Antes de começar, quero fazer notar a estratégica cronologia com que inauguro este novo espaço, tão próximo das autárquicas quanto se quer, que o povo tem memória curta. Posto isto, vamos ao que me trouxe aqui.

Já é Quarta-feira, dia da Edite vir cá a casa espalhar o pó com criatividade renovada, redistribuindo com mestria as bolas de cotão pelo chão das diferentes assoalhadas, a seis euros à hora, Que é mais barato que o que por aí se encontra, recordo ter ouvido de alguém entendido.

Uma hora e nove minutos da manhã, o nosso novo e oriental coleguinha, e não estranhem o diminutivo, que o rapaz é uma pessoa de diminuta figura, como todos os seus amiguinhos amarelos, está a cantar com afinco uma qualquer pimbalhada em mandarim, sem nenhum pudor e, ao que parece, com uma maldade desprovida de qualquer remorso, visto já não ser a primeira vez que, com agradável amabilidade, lhe bato à parede, Está calado chinês.

Em toda a sua orientalidade, o educado rapazito diz chamar-se Zé, que é a tradução de Chin Pau Tai, ou Pim Pam Pum, ou uma outra composição trissilábica aleatória, e canta cada vez mais alto, o danado, espero que seja de felicidade, que a ser de tristeza, não havia compaixão que lhe valesse.

Curiosamente, e nem de propósito, hoje, pela hora a que a Edite, com o seu porte de lutador de sumo e a sua dislexia cognitiva aguda, chegar a casa, a única pessoa que vai estar presente para lhe abrir a porta vai ser o Zé Chinês, do alto do seu metro e meio e com o seu raquítico vocabulário lusitano, que se resume facilmente a Sim sim, Tábem, Desculpa e Obrigado. Ninguém, de entre a infinita multidão que constitui o nosso círculo de leitores, será possuidor de uma imaginação tão explosivamente fértil que, assim de umas linhas, consiga criar uma imagem mental capaz de fazer justiça à epicidade de semelhante situação. Mas fica o desafio.

É este o primeiro episódio da nossa nova rubrica, marcada para as terças-feiras, que desta vez assinala o dia em que duas das mais bizarras personagens da cidade se encontram em minha casa, e eu não vou estar presente para ver.


Ora, roubando o término a que o Chefe nos acostumou, Adeus, e até terça que vem.
(Este texto em particular foi publicado, como episódio piloto, num blogue aqui perto.)

ZdT

1 comentário:

Anónimo disse...

Fico esperando ansiosamente pelas histórias da mulher a dias com porte de sumo e pelo chinês com vocabulário raquítico... gostei da adjectivação...pcp

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