18 abril 2010

Poemas dos dias que correm...

A Prisão do Orgulho

Choro, metido na masmorra
do meu nome.
Dia após dia, levanto, sem descanso,
este muro à minha volta;
e à medida que se ergue no céu,
esconde-se em negra sombra
o meu ser verdadeiro.

Este belo muro
é o meu orgulho,
que eu retoco com cal e areia
para evitar a mais leve fenda.

E com este cuidado todo,
perco de vista
o meu ser verdadeiro.


Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"
(Tradução de Manuel Simões)


1 comentário:

Anónimo disse...

Muito interessante esta comparação, JdB. Cristo revela-se, mostra-se, expõe-se, constantemente. Para que o sigamos, para que acreditemos nele, para que vejamos a Verdade personificada. O R Tagore faz o contrário: fecha a sua essência por orgulho, por medo, por fraqueza, por fragilidade. Muito melhor seria que se mostrasse. Porque a Verdade, mesmo quando é humana e frágil, é sempre melhor do que uma essência aparentemente bonita mas escondida. Quem disse que a Verdade nos libertará? Bom Domingo, JdB. pcp
ps: gosto que aqui tenha posto um indiano, um prémio Nobel indiano. Bramane, escritor, poeta, filósofo, fundador de uma universidade ao ar livre (literalmente) perto de Calcutá, ideólogo e apoiante de Gandhi, correspondeu-se com Tolstoi. Também pintou e tem quadros lindíssimos. Obrigada.

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