As semanas dos outros já não me dizem respeito. Quinzenalmente, à hora em que a noite começa a sossegar, lembro-me que é dia de escrever para o blogue e é esse o meu calendário. Estou sentado em frente ao computador há dias. Não sei quantas voltas a terra deu sobre si mesma, no seu baile de enganar parvos, nem quantas horas de jantar pulei, não me lembro se mudei de roupa, ou sequer de lugar. Aparentemente, a minha vida descobriu a sua vocação de pescadinha de rabo na boca e resolveu começar a devorar-se a si mesma, enquanto espera que venham devorá-la de vez.
Talvez não seja talhado para isto de ser estudante, ou talvez seja só irremediavelmente romântico, mas ainda guardo alguma esperança, escondida, para não me envergonhar, de encontrar alguém, neste caminho que é a universidade, que ainda se lembre do tempo em que os professores ensinavam, os alunos aprendiam e o mundo crescia.
Lembraram-me recentemente que já devia ter acabado o curso, que já devia estar a andar para a frente com esse negócio de ser gente, estenderam-me, meio a medo, meio ao desafio, fitas de tecido colorido, Escreve qualquer coisa, onde deixei, invariavelmente, uma versão escrita daquilo que é um abraço forte, ao invés do tradicional carimbo de notificação de entrada numa "nova fase" e da muito gasta "boa sorte".
Estou muito feliz por todos aqueles que souberam encontrar combustível para a alma no meio da rebaldaria dos dias de estudante, aqueles que souberam agarrar-se aos objectivos traçados e que agora, chegados ao fim, lhes brilham os olhos de satisfação.
Um exercício lógico trivial colocar-me-á, provavelmente, na gaveta dos pequeninos, ou na dos mandriões, ou na dos coitados, ou até na dos menos espertos. Não faço questão de me ver ao espelho aqui e agora, mas supondo que tenho uma extraordinária capacidade de me observar do lado de fora, como quem observa macaquinhos no zoo e perde a tarde toda a contemplar os seus embaraços e as suas vergonhas, eu diria que apenas ando a adiar o dia em que, Finalmente, chegarei ao fim do meu caminho de estudante. Não porque goste muito disto, nada disso, só não quero confirmar as suspeitas que o meu subconsciente subversivo vai gritando à consciência nas alturas mais complicadas, de que isto é tudo uma enorme perda de tempo.
Zdt
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