12 março 2012

Vai um gin do Peter’s?

Se há história que daria um bom argumento para um filme épico seria a dos Descobrimentos portugueses. 
Aliás, está já em rodagem um filme sobre um dos grandes descobridores – Vasco da Gama. Trocando a película pela pedra, o PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS desfia um pouco da narrativa desses séculos gloriosos. Um monumento muito marítimo, que fica especialmente deslumbrante visto do mar, com a proa a flutuar acima da linha de água. Assim navegam para sempre os heróis da maior gesta da nossa história.


Trinta e três figuras dispõem-se em fila indiana, numa complementariedade ascendente, que assume uma hierarquia explícita, iniciada (como é expectável) pelo Infante D.Henrique. Ali estão reunidos, em pedra lioz, cientistas, navegadores, governantes, estrategas e os artistas que registaram o feito, ao longo de várias gerações. A lista completa inclui: Infante D.Henrique – o Navegador, a segurar uma nau na mão direita, de velas enfunadas ao vento, D.Afonso V (o Africanista), Vasco da Gama, Afonso Gonçalves Baldaia (navegador), Pedro Álvares Cabral (descobridor do Brasil), Fernão de Magalhães, Nicolau Coelho (navegador), Gaspar Côrte-Real (navegador), Martim Afonso de Sousa (navegador), João de Barros (escritor), Estêvão da Gama (capitão marítimo), Bartolomeu Dias (descobridor do Cabo da Boa Esperança), Diogo Cão (navegador), António Abreu (navegador), Afonso de Albuquerque (o maior Vice-Rei da Índia), São Francisco Xavier (Jesuíta, patrono dos missionários), Cristóvão da Gama (capitão), Infante D.Pedro – Duque de Coimbra (filho de D. João I) e sua mãe – a rainha Filipa de Lencastre, Fernão Mendes Pinto (aventureiro, autor de a «Peregrinação»), Frei Gonçalo de Carvalho, Frei Henrique Carvalho, Luís Vaz de Camões, Nuno Gonçalves (pintor, a quem são atribuídos os Painéis de S.Vicente), Gomes Eanes de Zurara (cronista), Pêro da Covilhã (viajante), Jácome de Maiorca (cosmógrafo), Pêro Escobar (navegador), Pedro Nunes (matemático), Pêro de Alenquer (navegador), Gil Eanes (navegador), João Gonçalves Zarco (navegador) e D.Fernando – o Infante Santo (outro dos filhos da Ínclita Geração, martirizado em Marrocos). Olham o Tejo, alinhados nesta sequência: 




A caravela de pedra abraça um padrão estilizado, com uma cruz saliente e o escudo de Portugal. Obra do escultor Leopoldo de Almeida, foi inaugurado em 1960 para comemorar o quinto centenário da morte do Infante D.Henrique. Corresponde à réplica definitiva do monumento que tinha sido erigido, em materiais frágeis, para a magnífica Exposição do Mundo Português (1940), como «Pavilhão dos Descobrimentos». Nesse primeiro Padrão tinham colaborado Leopoldo de Almeida e o Arquitecto Cottinelli Telmo. Mas tivera de ser desmontado no final dos anos 50. Há imagens sugestivas dessa Exposição e dessa construção efémera, no gin de 19 de Maio de 2010, a propósito do filme «Fantasia Lusitana».
No interior do Padrão, há vários espaços expositivos, auditórios e um miradouro no último andar, a 50m de altura. 




No exterior, está embutida na calçada portuguesa uma gigantesca Rosa-dos-Ventos, de 50m de diâmetro, oferecida a Portugal pela África do Sul. Ao centro, o mapa desenha as principais rotas das Descobertas dos séculos XV e XVI, enquadradas por linhas azuis ondulantes, a lembrar as vagas sulcadas pelos galeões dos nossos antepassados, em todos os mares do planeta.



O monumento evoca os marcos (também em pedra) que os navegadores portugueses implantavam em terras recém-descobertas, a assinalar a soberania da coroa portuguesa nessas novas latitudes. Poucos restam desses tempos áureos, resistindo uns três na Sociedade de Geografia de Lisboa(1) e outro na Alemanha, como vestígios garbosos dos avanços de Diogo Cão, Bartolomeu Dias e Vasco da Gama, na África austral ou na Ilha de Moçambique – após a dobragem do Cabo da Boa Esperança.

Painel na Assembleia da República, a representar Diogo Cão junto ao padrão que indica a presença portuguesa no estuário do rio Zaire. O navegador foi o primeiro a colocar marcos, com inscrições eloquentes. Reza o seguinte no «Padrão de Sto.Agostinho» (implantado a 1482-83): «Era da criação do Mundo de 6681 anos, do nascimento de Nosso Senhor Jesus de 1482 anos, o mui alto, mui excelente poderoso príncipe, el rei D. João II de Portugal mandou descobrir esta terra e pôr estes padrões por Diogo Cão, escudeiro da sua casa.»

Avisava o célebre mentor da descolonização e independência dos povos da América Latina, Simón Bolívar (1783-1830): «Um povo ignorante é um instrumento cego da sua própria destruição.» Nesse sentido, relembrar a história dos povos é crucial para inspirar e dar substância ao futuro. Não menos para Portugal, nesta hora difícil.  

Maria Zarco
(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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(1)  Sociedade de Geografia de Lisboa, http://www.socgeografialisboa.pt, na Rua das Portas de Santo Antão (perto do Coliseu dos Recreios), nº 100. Tel. 213 425 401.

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito interessante, como sempre.
fq

Anónimo disse...

É sempre bom sermos relembrados dos nossos monumentos - e da nossa História. Bem-haja, Dra. MZ! pcp

Anónimo disse...

Obrigadíssima aos queridos leitores tão atentos e sempre com tanta boa vontade, MZ

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