10 fevereiro 2013

5º Domingo do Tempo Comum

Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de católico.

Talvez há muitos anos, quando escutei pela primeira este evangelho com ouvidos de ouvir, tenha pensado que se referiria muito, nos dias de hoje, não só aos missionários, mas ao apostolado a que somos todos desafiados. Seria esse o significado de pescadores de homens e a eles se exigia uma acção positiva, activa, como aos homens da faina do mar se espera que vão à pesca.

Anos passados, e alguma meditação sobre o que é a vida, arrisco-me a estender esta ideia. Há homens que nos pescam, não porque nos atirem com uma metafórica rede, mas porque a simples existência deles nos chama ao caminho que acreditamos ser o da Verdade. Poderia referir-me a pessoas gigantes do nosso tempo, como João Paulo II ou Madre Teresa, ou mesmo, num âmbito diferente Nelson Mandela. Seria errado, no entanto, pensar que só estes vultos do século XX têm verdadeira dimensão de exemplo. É verdade que o são, mas para o mundo inteiro. E no nosso pequeno mundo?

Sou amigo de um homem cuja vida profissional sofreu uma reviravolta profunda. Em meia dúzia de meses perdeu emprego, regalias, rendimento financeiro confortável. De onde saiu não trouxe indemnização nem subsídio de desemprego, porque as regras são assim. Ao contrário de mim, que reduzi qualidade de vida ao sair da Lever, porque fiquei com menos rendimentos, este meu amigo perdeu tudo. Com a idade que tem (e não é novo...) tem de reconstruir uma actividade a partir do quase zero. 

Obviamente que o mérito não está na perda, mas na forma como reagimos à perda. Habituados a ouvir lamentos em quem perdeu pouco, pasmo-me com quem perdeu muito - mesmo muito - e encara essa realidade com um aparente sossego que constitui sempre um desafio. Ao partilhar discretamente a história deste meu amigo - que me conta tranquilamente o que a vida dele mudou - partilho uma pedagogia, não uma fofoca. A relativização das coisas é importante - muito importante numa altura em que tantas casas sofrem alterações dolorosas e profundas. Pensar que há gente pior do que nós não é um pensamento bonitinho para se ter ao domingo na missa nem uma frase irritante que nos impede o lamento. É uma necessidade constante que nos ajuda a sair do centro do nosso mundo e a olhar, com olhos de ver, o mundo dos outros, tantas e tantas vezes pior do que o nosso.

Todas estas pessoas que souberam dar uma volta interior são pescadores de homens. Mesmo que o meu raciocínio seja teologicamente uma aberração...

Bom Domingo para todos.

JdB


EVANGELHO – Lc 5,1-11
Evangelho de Nosso senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo,
estava a multidão aglomerada em volta de Jesus,
para ouvir a palavra de Deus.
Ele encontrava-Se na margem do lago de Genesaré
e viu dois barcos estacionados no lago.
Os pescadores tinham deixado os barcos
e estavam a lavar as redes.
Jesus subiu para um barco, que era de Simão,
e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra.
Depois sentou-Se
e do barco pôs-Se a ensinar a multidão.
Quando acabou de falar, disse a Simão:
«Faz-te ao largo
e lançai as redes para a pesca».
Respondeu-Lhe Simão:
«Mestre, andámos na faina toda a noite
e não apanhámos nada.
Mas, já que o dizes, lançarei as redes».
Eles assim fizeram
e apanharam tão grande quantidade de peixes
que as redes começavam a romper-se.
Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco
para os virem ajudar;
eles vieram e encheram ambos os barcos
de tal modo que quase se afundavam.
Ao ver o sucedido,
Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e disse-Lhe:
«Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador».
Na verdade, o temor tinha-se apoderado dele
e de todos os seus companheiros,
por causa da pesca realizada.
Isto mesmo sucedeu a Tiago e a João, filhos de Zebedeu,
que eram companheiros de Simão.
Jesus disse a Simão:
«Não temas.
Daqui em diante serás pescador de homens».
Tendo conduzido os barcos para terra,
eles deixaram tudo e seguiram Jesus.

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