24 fevereiro 2013

2º Domingo da Quaresma

Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de católico.
Para quem, como eu, que tem escrito ultimamente (e muito, quase até à exaustão) sobre a difícil arte de escutar, o texto que reproduzo abaixo cai que nem ginjas.


A “esmola” de escutar
No alto do Tabor (que tem uma vista deslumbrante sobre os campos da Galileia) o que mais me impressiona não é a espectacularidade da experiência que os discípulos fazem. Não são as vestes luminosas de Jesus, nem Moisés e Elias a conversar com Ele, nem o encanto e a delícia de acampar ali e esquecer a vida dura e sofredora de cá de baixo. Impressiona-me o pedido simples e aparentemente insignificante da voz do Pai: “Escutai-O”. Como se nos pudéssemos deixar de escutar as suas palavras de vida eterna, as parábolas que “mordem” na vida, os discursos que nos fazem pensar! Mas a verdade é que o Pai sabe como até deixamos de escutar! 

O exercício de escutar não é tão simples como parece. É verdade que passámos os últimos dos nove meses de gestação já a escutar (segundo dizem os pediatras!) e os primeiros tempos de vida os nossos ouvidos foram grandes parabólicas dirigidas a todos os sons e mensagens. Depois crescemos e fomos seleccionando melhor o que queríamos ouvir, às vezes caindo no erro de só ouvir o que agrada, ou de gostarmos muito de nos ouvir a nós próprios. Ouvir o outro em profundidade, com os ouvidos mas também com os olhos (quantas coisas se dizem sem palavras!), ouvir acolhendo e realizando o milagre de recolher as suas luzes e sombras, sem julgar nem preparar respostas, é bem difícil. Chamamos diálogo ao movimento de palavra e de escuta que une as pessoas, mesmo quando as ideias são diferentes. E tantos amores se gastam, tantos preconceitos matam, tantos fanatismos proliferam, tantas oportunidades de felicidade se desvanecem, por falta de verdadeira escuta.  

É verdade que escutar é uma arte que se desenvolve. Não posso esquecer o privilégio de ter contactado com os religiosos Camilianos (de Espanha) e de ter conhecido a metodologia dos seus “Centros de Escucha”, iniciados em Madrid e agora já em oito cidades espanholas. Mas quanto desse saber pode ser praticado por cada um nos nossos encontros quotidianos! Porque são tantos os que pedem a pequena esmola de um tempo de escuta! Não precisam de respostas, não precisam de explicações, precisam de ser ouvidos. E se tudo o que é exterior, as notícias da crise e os últimos escândalos, as novelas e o “diz que diz-se” são mais importantes que os sentimentos e pensamentos daqueles que dizemos amar, não custa adivinhar como a solidão vai crescendo.

O pedido do Pai para escutarmos Jesus implica o modo, a qualidade e o tempo de também nos escutarmos uns aos outros. De sermos mais igreja que escuta e acolhe, do que prega e dá respostas feitas. De amar a verdade do que pensamos e sentimos. De despirmos falsos moralismos e presunções ocas que impedem o encontro feliz das pessoas e de Deus. O que Deus gostaria de mudar se nos escutássemos melhor?   

 P. Vítor Gonçalves, in Voz da Verdade 24.03.3013      


***

EVANGELHO – Lc 9,28b-36

Evangelho de Nosso senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo,
Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago
e subiu ao monte, para orar.
Enquanto orava,
alterou-se o aspecto do seu rosto
e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente.
Dois homens falavam com Ele:
eram Moisés e Elias,
que, tendo aparecido em glória,
falavam da morte de Jesus,
que ia consumar-se em Jerusalém.
Pedro e os companheiros estavam a cair de sono;
mas, despertando, viram a glória de Jesus
e os dois homens que estavam com Ele.
Quando estes se iam afastando,
Pedro disse a Jesus:
«Mestre, como é bom estarmos aqui!
Façamos três tendas:
uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias».
Não sabia o que estava a dizer.
Enquanto assim falava,
veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra;
e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem.
Da nuvem saiu uma voz, que dizia:
«Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O».
Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho.
Os discípulos guardaram silêncio
e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.

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