Sendo o auto-retrato um tema
recorrente na pintura ocidental, sobretudo a partir do Renascimento, raros são os
que posam propriamente para a posteridade, como Murillo ou, mais ainda, Velásquez,
que treinou amiúde a pose afidalgada com que se eternizou em telas conhecidas,
nomeadamente na célebre obra encomendada por Filipe IV de Espanha – «As Meninas»
(1656). Para a maioria resultava, simplesmente, no modelo mais próximo e
disponível onde podiam estudar, à saciedade, diferentes movimentos, inúmeras expressões,
variedades de cenários e de idades, com as alterações próprias da passagem do
tempo. Rembrandt, Dürer, Van Dick, Goya ou Kollwitz são disso exemplo.
É um facto que noutros parece
perpassar uma nota indelével de egocentrismo. Assim sugerem Dali, ostensivo e
triunfal, Picasso, Frida, Velásquez ou Andy Wharhol, sempre igual a si próprio
no exibicionismo hiperbólico da imagem, elevando-se a ícone da Pop Art:
Temáticas comuns como o auto-retrato
ou a natureza morta divergem muito de artista para artista, porque não
conseguem escapar ao cunho específico do autor. Quase todos são reconhecíveis
nas obras que assinam: Dürer no rigor, detalhe e combinação harmoniosa do
conjunto; Leonardo com uma suavidade de traço comovente; Rembrandt numa
expressividade e jogo de sombras apuradíssimo; Caravaggio teatral e expansivo,
bem à italiana; Gauguin esfusiante na experimentação cromática; Van Gogh
inovador na forma e nas pinceladas salientes que só no todo se descodificação;
Kollwitz hiper analítico; Picasso na profusão de estilos; Margritte cheio de
humor; Dali fiel ao surrealismo; Frida quase obsessiva na figuração da herança
índia; Miró a cultivar um traço muito simplificado e depurado, de que o símbolo
promocional de Espanha é paradigma, ilustrando a frase inspiradora: Spain. Everything under the sun; etc.
Algures, em 2008, entrou
na net uma colecção de telas a cobrir estes e outros grandes pintores
ocidentais, desde o século XV ao XX, com um alinhamento assombroso,
aproximadamente cronológico: Dürer, Raffaello, Leonardo, Rubens, Van Dick,
Arcimboldo, Velásquez, Rembrandt, Caravaggio, Murillo, Goya, Pissaro, Manet,
Degas, Cézanne, Monet, Renoir, Gauguin, Miró, Margritte, Matisse, Dali, (Frida)
Kalho, Picasso, Chagall e Kollwitz:
NUM MUSEU DO IMPÉRIO DO MEIO
Uma mega tela, considerada dos maiores tesouros da arte chinesa, tornou-se acessível
na net, com um simples clique.
De formato
gigantesco, nos seus 5,28m de comprimento e 24,8m de altura, foi pintada no
século XI, durante a dinastia da «Canção do Norte» e retocado mais tarde, na
dinastia Qing. No museu de Xangai, é das principais
atracções das multidões que se acotovelam naquela efervescente metrópole
chinesa.
Através do link, descobrimos os 1001 pormenores da
pintura das margens do Rio durante o Festival
Ching-ming e deparamo-nos com uns quadrados de contorno branco, que nos
desvendam em zoom o pormenor retratado naquela parcela de quadro, oferecendo-nos
ainda uma curta-metragem animada, que combina os méritos da arte antiga com as
riquezas da arte contemporânea, apoiada pela sofisticação tecnológica. Tudo
isto sem sair de casa:
http://www.npm.gov.tw/exh96/orientation/flash_4/index.html
Um luxo podermos começar
a semana com uma visita virtual a obras-primas vindas das quatro partidas do
mundo, sem as restrições do fecho dos museus às Segundas ou aos horários apertados.
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico,
para daqui a 2 semanas)
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