The Iron Lady
Creio que foi ainda em 2010 que tomei conhecimento que estava a ser produzido um filme sobre Margaret Thatcher. Sendo eu apreciador da Sétima Arte, de biografias (escritas ou em vídeo) e ideologicamente convergente com as políticas de Thatcher, desde esse momento que ansiei pela estreia do filme em Portugal.
Pela primeira vez, desde que me lembro, li, vi e ouvi todas as criticas e análises sobre o filme, mesmo antes de o visionar. Foram artigos no jornal, crónicas na rádio e até um documentário/debate na SIC Notícias com a presença de Martim Cabral (ex-jornalista da BBC) e Francisco Sarsfield Cabral (representante permanente da Comissão Europeia nos anos 80). Por mais que as opiniões sobre o filme fossem diversas, houve dois pontos em que todos concordaram: o magnânimo desempenho de Meryl Streep e o facto de o filme ser sobre a pessoa Margaret Thatcher e não sobre a primeira-ministra, ou tão pouco sobre o Thatcherismo.
No que concerne ao primeiro tópico, não posso estar mais de acordo. O desempenho de Meryl Streep é a todos os títulos perfeito. Seguramente uma das melhores performances feitas por uma actriz. Já o filme não ser sobre a Thatcher política, mas sim sobre Maggie, concordo parcialmente. Nos primeiros 30/35 minutos do filme é verdade. A parte pessoal e a crescente demência da senhora é profundamente explorada. Porém, daí para a frente, há numerosos factos relativos ao Thatcherismo que são trazidos à ribalta. Desde os primeiros dois anos de mandato em Downing Street, em que os níveis de popularidade estavam pela hora da morte, à constante guerra aberta com os sindicatos (ódio de estimação de Thatcher), ao corte na despesa pública, passando pela política de privatizações de empresas e indústrias que os anteriores governos Trabalhistas tinham consagrado, graças à Quarta Cláusula do seu programa, pertencer à esfera pública e o total apoio à política de livre mercado.
Os primeiros tempos no Cabinet não foram tarefa fácil. Toda a essa situação foi revertida em 1982. O governo fascista da Argentina, numa clara tentativa de demonstração de poder, invade e ataca as ilhas Falkland, pertencentes à Coroa Britânica. Ao confrontar-se com esse facto, a primeira-ministra, contra tudo e contra todos, inclusive contra os EUA, toma a decisão de fazer frente às forças militares argentinas. Envia uma esquadra britânica com o propósito de recuperar as ilhas do sul do Atlântico. A vitória foi fácil, dado a diferença de poderio militar entre as partes. A nação e a população rejubilaram. Nas ruas de Londres cantava-se I'm in love with Margaret Thatcher. A popularidade subiu em flecha. A decrépita economia, herdada do anterior governo Labour, registou uma clara prosperidade. Graças à desregulamentação dos mercados financeiros (devidamente coadjuvada pelo aliado Ronald Reagan) a City londrina incrementava o volume de negócios.
Mas já nos últimos anos da década de oitenta tudo foi posto em causa. Mesmo com a saudada queda do Muro de Berlim, para o qual Thatcher tanto contribuiu com a estreita relação que manteve com Mikhail Gorbachev, o anúncio de uma Poll Tax, de efeito regressivo, foi o Canto do Cisne para a carreira política de Maggie. Tendo grande parte do seu próprio partido contra si, nada mais lhe restou se não o pedido de demissão do cargo de primeira-ministra.
Talvez os líderes políticos actuais devessem ver Iron Lady e daí retirar algumas ilações. Tal como a extrema importância que Thatcher dava à ideias, e não tanto ao autor das ideias, e menos ainda à forma com eram propagandeadas. Num célebre debate na Casa dos Comuns, um deputado Trabalhista critica severamente o estilo de Thatcher. Esta responde dizendo-lhe para dar mais atenção ao que ela diz, e não à forma como o diz.
Uma crítica que se pode fazer ao filme é a total inexistência de passagens que ilustrassem a visão atlantista de Lady Thatcher. É inconcebível avaliar o Thatcherismo sem ter em conta a aliança com Reagan e toda a paixão que a Dama de Ferro nutria pelos EUA.
Pedro Castelo Branco
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