Nos passeios a pé pelo
centro de Lisboa, dá para descobrir tudo o que aparece de novo, assim como tudo
o que vai fechando… A boa notícia é o painel em preto lustroso a revestir a
esquina do início do segundo quarteirão da av. da Liberdade(1), descendo pelo lado esquerdo. Salta logo à vista por não
ter nada a ver com os painéis indiferenciados, que escondem as fachadas
desfeitas dos edifícios devolutos. Este, hiper decorativo, fala por si, com um
leopardo a destacar-se no fundo escuro e liso, numa pose meia reclinada sobre a
balaustrada de uma das pontes do Sena. Sentimo-nos em Paris. A marca quase
dispensa ser nomeada. Discretamente, ficamos a perceber que a Cartier vai, em
breve, animar Lisboa e completar as griffes
da avenida.
Em 2007, teve uma exposição
na Gulbenkian com as peças mais expressivas da sua longa história, desde 1847. Além
da criatividade no design, impressionava a beleza das pequenas obras de arte em
joalharia, com o expectável desfile de figuras do jet set mundial, a usar as
obras-primas saídas do atelier do grande ourives parisiense. Apelidado pela
família real britânica por o joalheiro do
rei e o rei dos joalheiros («the jeweler of
kings and the king of jewelers»), aos poucos tornaram-se os fornecedores
oficiais das casas reinantes na Europa e na Ásia, dos magnatas, dos artistas
que pululavam por Paris, e das estrelas de Hollywood. Filmes míticos exibiram o
inconfundível estojo de pele encarnada ou faziam-lhe referência directa: «Sunset
Boulevard», «Os Homens Preferem as Loiras» com Marilyn Monroe, e ainda «O
Grande Gatsby» com Robert Redford e Mia Farrow.
No fim da I Guerra Mundial, em 1918,
os dois heróis e Marechais de Campo franceses – Foch e Pétain – mereceram um
bastão desenhado pela marca. Na II Guerra, apoiaram corajosamente a dissidência
do General De Gaulles, fugido para Londres, onde organizou e liderou o Exército
da França Livre. Com enorme sentido de humor, lançaram em 1942 o «Pássaro
Enjaulado» e, em 1944, logo após a libertação de Paris: o «Pássaro Livre».
Acompanhando as inovações na pintura, foram os primeiros a incorporar a Art Deco na
joalharia. As colecções inspiravam-se em temas, tendo-se algumas convertido em ex-libris
da Casa, como a célebre panóplia de «bestiário», nos anos 40. Ali figurava, por
exemplo, o alfinete da Pantera criado para a mulher do Duque de Windsor (que
abdicou do trono, em 1936, para casar com a americana divorciada), Wallis
Simpson. Note-se que o motivo da pantera remonta a 1914, quando o padrão começou
a ser usado pela Cartier em modelos de relógios femininos.
As peças e as magníficas fotografias expostas na
Gulbenkian faziam-nos viajar no espaço e no tempo, percorrendo épocas
emblemáticas dos dois séculos passados e revelando-nos lugares espantosos do
globo. Nesse sentido, não se estranha que o actual spot, se lance numa viagem
de sonho (em todos os sentidos), acompanhando a passada veloz do leopardo que
simboliza o universo Cartier, numa versão de globetrotter onde, a partir da sua Casa, no nº 13 da Rue de la
Paix, mesmo junto à Place Vendôme, chega a todo o lado. Aliás, abarca todos os
recantos da terra, reencontrando vestígios da marca nos locais mais remotos. O
título do filme é épico, ou não fosse francês, que é um povo sem medo (do peso)
das palavras. Assume-se, assim, como nada menos do que a «Odisseia da Cartier».
Realizado por Bruno Aveillon, teve estreia mundial no Metropolitan Museum of
Art de Nova Iorque, a 29 de Fevereiro de 2012.
Evocando o mito de Pigmaleão – símbolo maior da arte, cuja beleza permite
dotar de vida a própria obra – nos primeiros momentos da odisseia assistimos ao
nascimento da jóia-felino, que começa a respirar, transcendendo a mera
materialidade do mundo inanimado. Mal ascende ao reino dos vivos, parte à
conquista de um planeta por onde ecoam as suas raízes, pois a aventura da sua
vida revela-se universal.
Sugestivamente, a viagem termina no estojo, onde se guarda um sonho
imenso. Uma verdadeira caixa de Pandora a albergar, na pequena caixa de pele
encarnada, um horizonte de oportunidades e de beleza:
PORTUGAL
VALE A PENA
Foi recentemente lançado pela AICEP, a Agência portuguesa responsável pelo Comércio e Investimento portugueses, o filme CHOOSE PORTUGAL, a divulgar as inúmeras vantagens deste país tão acolhedor. Dirigido ao investidor e turista estrangeiro, felizmente para nós, o filme tem tido uma avalanche de visualizações, sobretudo nos EUA, Reino Unido, França, Espanha e Brasil, estando já disponível em várias línguas:
JOGO DE
GEOGRAFIA
Numa ideia muito
pedagógica e de fácil acesso, há um link bem divertido que nos desafia a colocar
no mapa do Próximo e do Médio Oriente os vários países da região. Para quem
queira relembrar a geografia é um óptimo passatempo:
http://www.rethinkingschools.org/just_fun/games/mapgame.html
De certo modo, são três
viagens imperdíveis, de Paris ao Médio Oriente, passando pelo melhor de
Portugal. Viajar é sempre o máximo, mesmo virtualmente...
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico,
para daqui a 2 semanas)
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(1) Lado nascente da avenida, no prédio devoluto
há anos, na esquina com a av.Alexandre Herculano.
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