10 outubro 2013

Crónicas de um mestrando tardio


Pessoa próxima, cuja inteligência invejo e cuja amizade prezo, escreveu-me no seguimento de um post da semana passada ao abrigo das crónicas de um mestrando tardio. Cito o mais relevante:

Estupefacto com a fantasia das vossas viagens.
O jardim secreto está bem guardado pelo hermetismo. A vedação do ocultismo assegura o recreio dos eleitos. O cultivo do esotérico garante a sombra para a casta. Que seita no seu Éden.
Todavia, e "malgré tout", esforçadamente, lá fui seguindo o teu discursar, e a verdade é que julgo perceber o que pensas e dizes. Pelo menos faz-me sentido e é eficaz, pois chega a parecer que é importante, até indispensável para um quotidiano lúcido.

É lógico que as pessoas se questionem, face ao conteúdo hermético do pobre ensaio que redigi, o que ando a fazer na faculdade de letras, para que serve algo de que não se entende o teor, quanto mais a utilidade para a vida prática. Eu tento explicar, não conceptualmente, mas no que me diz respeito: tenho aprendido a pensar. Isto é, tenho-me confrontado com áreas diversas, como a filosofia da linguagem ou a filosofia da ciência, ou ainda as relações whitmanianas. Em termos de quotidiano, não me serve para nada, mas ajuda-me a desenvolver um raciocínio, para além de ouvir falar e ter de discernir sobre temas que me eram totalmente desconhecidos - mas que me acrescentam valor intelectual. Só isso, só esse desafio, seria o suficiente para justificar a minha inscrição.

Por outro lado, há sete ou oito anos que tenho a ideia para um livro a bailar-me na cabeça. Partilhei a trama com duas ou três pessoas mas, se tivesse de escrevê-la, não me ocuparia mais do que meia dúzia de linhas, que não havia conteúdo para mais. Este mestrado - e as pouquíssimas semanas desde o início - deram-me ideias importantes que eu espero ter engenho e arte para desenvolver. Tem sido, confesso, um manancial de inspiração. 

***

Ontem foi dia de Chaos and Order, o seminário ministrado pelo Prof. John Jean, convidado de uma universidade americana. Falámos da Divina Comédia e, sobretudo, do Inferno. Não nos importou a alegoria teológica, mas a concepção aristotélica do universo (finito), os conhecimentos de matemática de Dante, os estudos e as dissertações de Galileu sobre o tema, sobre a (im)possibilidade física do Inferno, apenas porque a estrutura seria inviável do ponto de vista da escala...

    

JdB


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