11 abril 2014

Colar de pérolas (17)



A gola da velha gabardina subida, contra o frio que te gela os ossos. Caminhas. Páras, à porta de uma velha mansão e atravessas o portão que balouça ao vento, perdido o orgulho dos tempos em que era ainda esbelto ferro. Bates à porta, ninguém te responde. Entras, porta adentro. Nas escadas, os degraus parecem-te um decrépito teclado de piano - ou uns dentes de velho, irregulares e estragados. A lua, pela janela, acompanha-te. Lembras-te dos tempos em que a casa estava habitada. Dos dias em que a habitavas. De quando a casa te habitava. Estancas o passo. Em silêncio, dás meia volta e sais, atravessando, em sentido inverso, o pequeno jardim, e passas o portão. É já quase manhã e as lágrimas secas que te cortam o rosto são enxugadas pelos mesmos pássaros que tem embalavam em menino, na árvore em fronte à janela do teu quarto. Quando tudo arde, restam-te os pássaros, rapaz. E as memórias.

gi.

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