Nos idos anos 50 do século passado, Joly Braga Santos (1924-1988) compôs a IV Sinfonia (Op. 16), cujo quarto andamento inclui uma ária coral de homenagem à juventude musicando um poema de Vasconcellos Sobral (creio).
Na década seguinte esteve para ser consagrada como Hino Mundial da Juventude. Quando se ouve, percebe-se que teria sido uma óptima escolha, tal a frescura e vitalidade daquela peça musical, impregnada de enorme jovialidade e de uma tonalidade muito estimulante e luminosa, sem resvalar para o triunfalismo simplista ou infantil. Infelizmente, o ambiente político internacional penalizou Portugal, que se mantinha uma potência colonial cobiçadíssima, além de muito criticada por não se render à democracia. Factores vários, alguns totalmente estranhos aos critérios artísticos que deveriam imperar, não favoreceram o reconhecimento da qualidade da produção nacional (em geral), menos ainda de as consagrar internacionalmente, ainda que algumas fossem merecedoras de distinções supra nacionais. Ainda assim, em 1969, foi-lhe atribuído o Prémio Internacional da UNESCO pela sua V Sinfonia, além do reconhecimento como sinfonista notável. Teve o mérito acrescido de conciliar a riqueza sinfónica com a capacidade de construir obras que «não desdenhando as conquistas do século XX, falassem ao homem comum com simplicidade e clareza», segundo o próprio.
A versão completa da sinfonia vem aqui postada, podendo facilmente ser abreviada movendo-se o cursor da régua em baixo para a direita. Anotação sobre os 4 andamentos: I. Lento; II. Andante; III. Allegro Tranquillo; IV. Lento:
Se há ponto forte nos portugueses é a internacionalidade, que não é sinónimo de cosmopolitismo, pois tem mais a ver com a capacidade de aculturação a outras culturas e a facilidade de contacto com gentes exóticas, indo além dos atributos do cosmopolita. Aliás, a aproximação de civilizações foi iniciada por Portugal, com os Descobrimentos, inaugurando o longo (e imparável) processo de globalização interplanetária, que encurtou distâncias.
Embora saibamos que menor distância geográfica pode não se traduzir por menor distância afectiva, sempre ajuda. Pelo menos, favorece a saudável afinidade que decorre da mera entrada de um ser humano no horizonte visual de outro. Sim, aquela cara desconhecida pode ganhar alguma familiaridade. Como diz o ditado: longe da vista, longe do coração, percebendo-se que o inverso também funciona. Aliás, foi esse o sentido do InterRail ou do programa Erasmos, quando se procurou aproximar os povos europeus.
Também em programas semelhantes, Portugal deu um contributo ímpar e original com o programa Inov Contacto(1). Lançado em 1997 (com a designação abreviada a “Programa Contacto”) proporciona estágios a recém-licenciados em empresas espalhadas pelo mundo. O objectivo é ampliar a oferta de trabalho e de horizonte de vida dos mais novos. Nada menos do que todo o planeta, sintonizando com a definição do português (extensível a qualquer ser humano) verbalizada por um sábio de todos os tempos, nascido em Lisboa, no século XVII – P.António Vieira (1608-1697): «Para nascer, Portugal: para morrer, o mundo. Para nascer, pouca terra; para morrer, toda a terra.»
Claro que foi a frase do imperador da língua portuguesa (como lhe chamava Pessoa) escolhida para figurar na lápide que assinala a primeira morada do jesuíta, junto à Sé de Lisboa.
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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(1) Recomenda-se a consulta ao site www.inovcontacto.pt, com inscrições abertas até 11 de Setembro.
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