23 setembro 2015

Duas Últimas

Hoje, mas há oito anos, estava na Beira. Respigo parte do que então escrevi:

Beira, Moçambique, hoje, mas há exactamente 8 anos


























Descrever a Beira talvez seja falar – por mais disparatado que isto possa parecer – no que imagino ter sido a cidade antes da independência. Agora é uma metrópole suja, mal conservada, estragada, mostrando a face visível do que são as consequências de uma guerra civil prolongada e as quezílias partidárias levada ao extremo. 

Imagino a Beira de há 34 anos, sem que esta descrição tenha o que quer que seja de um saudosismo colonialista, já que é a primeira vez que visito este país. 
Talvez o comércio fervilhasse, talvez a zona do Macuti (que garantem locais e estrangeiros ser a mais bonita da cidade) estivesse pejada de gente passeando ao calor da noite, comentando os dias que passavam, sentando-se numa esplanada a comer camarões, a beber cerveja, a rir e a gozar uma vida diferente, um clima diferente. Imagino as crianças na praia banhada pelo Índico – nalguns casos a dez passos de suas casas – a correrem inocentes atrás dos caranguejos, num cansaço que não vinha, mesmo depois das aulas de natação no Clube Náutico. 
Agora já nada disso existe. As casas de algumas famílias felizes que por lá passaram deram lugar a orfanatos de crianças com futuros improváveis, a terra batida que separa as vivendas do areal parece um trilho do mato, as árvores que debruam a praia do Náutico afiançam-me estar quase secas, o tecido habitacional da cidade carece de uma operação plástica urgente – ainda que não profunda.

Agora deixo-vos com Mc Roger. Agitem-se!

JdB


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