Um dia desta semana, mas há 40 anos exactamente, partia rumo ao Rio de Janeiro. Tinha 17 anos e era a minha maior viagem até então, já que só saíra de avião para ir a Londres - e acompanhado pela família de então. O Rio de Janeiro era, na altura, sinónimo de emigração política. Para lá iam os saneados, perseguidos, ou impossibilitados de se quedarem pelo solo pátrio. Nesta equação não entra a emigração anterior, por motivos económicos, de tantos joaquins e manuéis que viriam a povoar o anedotário brasileiro.
Anos mais tarde - vinte e muitos - viajei até ao Zimbabwe, onde estive dois meses. Ao contrário do voo para o Rio (primeira classe num Boeing 747) para África voei em lata, porque o turismo em 1975 e em 2008 nada têm a ver um com o outro. O requinte deu lugar à facturação, uma certa elite deu lugar às massas, o low-cost (ou os preços vulgares das viagens) abriram o mundo a toda a gente. A título de exemplo, uma viagem Lisboa - Frankfurt - Hong-Kong e volta custava, em 1979, o equivalente a 600€. Quanto subiu em 36 anos?
Mas não é de viagens que falo quando associo o Rio de Janeiro a África. Falo de pecado - ou melhor, de ausência de. Falo da liberdade, da sensualidade, da ausência de complexos ou de carnalidade pecaminosa, de uma boa convivência com o corpo. Ver uma africana ou uma brasileira a dançarem é imaginar a angústia dos missionários: não só elas não queriam saber de pecados da carne como devem ter dado a volta a tanta gente que, de olhos postos no corpo alheio, lhes falava de um Deus que castiga a luxúria, expressão que não lhes cabia no léxico.
Estranhamente, Chico Buarque nunca passou pelo estabelecimento. Deixo-vos com uma toada alegre e mexida (é um samba?) cujo título é uma realidade história: não existe pecado ao sul do Equador. Própria para quem faz do reveillon uma noite de eleição e folia. O que não é, decididamente, o meu caso.
JdB
JdB
2 comentários:
Há 30 anos (exatamente) era bom era, escreva lá há 40 e conforme-se.
Boas entradas, calmas e requintadas.
Beijinhos
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