28 setembro 2018

Poemas dos dias que correm

À espera dos bárbaros

- Que esperamos na ágora congregados?   

         Os bárbaros hão-de chegar hoje.

- Porquê tanta inactividade no Senado?
- Porque estão lá os Senadores e não legislam?

        Porque os bárbaros chegarão hoje.
       Que leis irão fazer já os Senadores?
       Os bárbaros quando vierem legislarão.

- Porque se levantou tão cedo o nosso imperador,
  e está sentado à maior porta da cidade
  no seu trono, solene, de coroa?

         Porque os bárbaros chegarão hoje.
        E o imperador espera para receber
        o seu chefe. Até preparou
        para lhe dar um pergaminho. Aí
        escreveu-lhe muitos títulos e nomes.

- Porque os nossos dois cônsules e os pretores
  sairam hoje com as suas togas vermelhas, as bordadas;
  porque levaram pulseiras com tantas ametistas,
  e anéis com esmeraldas esplêndidas, brilhantes;
  porque terão pegado hoje em báculos preciosos
  com pratas e adornos de ouro extraordinariamente cinzelados?

         Porque os bárbaros chegarão hoje;
         e tais coisas deslumbram os bárbaros.

- E porque não vêm os valiosos oradores como sempre
  para fazerem os seus discursos, dizerem das suas coisas?

          Porque os bárbaros chegarão hoje;
         e eles aborrecem-se com eloquências e orações políticas.

- Porque terá começado de repente este desassossego
  e confusão. (Como se tornaram sérios os rostos.)
- Porque se esvaziam rapidamente as ruas e as praças,
  e todos regressam às suas casas muito pensativos?

    Porque anoiteceu e os bárbaros não vieram.
    E chegaram alguns das fronteiras,
    e disseram que já não há bárbaros.

E agora que vai ser de nós sem bárbaros,
Esta gente era alguma solução.

Konstandinos Kavafis (tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis)

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