Regresso aos clássicos
«Folheio os antigos sábios e neles reencontro os meus pensamentos mais modernos.» «Todos os pensamentos inteligentes já foram pensados; só é preciso tentar repensá-los.»
É significativo um dado que se regista agora em diversas ocasiões, o regresso aos clássicos. Todas as vezes que se propõe uma leitura de Dante, de Homero ou da Bíblia é surpreendente ver a multidão – muitas vezes maioritariamente juvenil – que se atropela para a escuta, por vezes em condições desfavoráveis, mas com grande atenção.
As motivações são várias, a começar pela saturação desse excesso de murmuração e banalidade que assola a comunicação de massa. Mas há duas outras razões sugeridas na dúplice citação que hoje proponho.
A primeira observação extraio-a do romance “O primeiro círculo” (1968), do famoso escritor russo Alexander Solzhenitsyn (1918-2008) e é uma consideração que muitas vezes deixa surpreendido todo o leitor dos clássicos: descobre-se que eles são muito mais atuais, envolventes e «modernos» do que muitos textos e páginas inteiras de jornais publicados nos nossos dias.
Com efeito, eles sabem colher não só o sentido profundo da realidade, mas também intuir-lhe os desenvolvimentos, penetrando até no futuro.
E eis que chegamos à segunda nota, pertencente a alguém que pode ser considerado já um clássico; é, efetivamente, uma das “máximas” do grande autor e estadista alemão Goethe (1749-1832).
Ele recorda-nos, substancialmente, aquela célebre imagem de Bernardo de Chartres: somos anões às costas de gigantes. A nossa tarefa não partir do zero, mas sobre a base necessária do passado – eis o relevo das chamadas “raízes” – repensar, reatualizar, projetar para o hoje aquela mensagem fecunda e criativa.
* P. (Card.) Gianfranco Ravasi
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 12.09.2018
As melhores viagens são, por vezes, aquelas em que partimos ontem e regressamos muitos anos antes
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