Janto em Lyon ao lado do meu novo colega de board do CCI, um zimbabweano, de origem não inglesa, como poderia sugerir o nome. É tipicamente africano, if you know what I mean... Mostra-me a nota que fotografei; diz-me ele que é para nunca se esquecer do buraco em que esteve a economia local. Pergunto-lhe se a situação agora é pior do que era em 2008, quando lá estive. Muito pior, responde. Não há nada e tudo está em greve: os médicos, os enfermeiros, os professores... Há gente, diz-me ele, que suspira por Mugabe. Pergunto-lhe a opinião: responde que sim, que tem saudades de Mugabe; a vida era muito difícil, mas não havia fome, que ele decretaria que houvesse pão a 1 dólar, ou o que seja.
Das saudades de Mugabe passa para o elogio do Zimbabwe, que era o país mais ilustrado de África, que tinha tudo para ser a inveja do continente. Acaba por não ter nada, não ser nada, apenas o fracasso de políticas erradas. E as pessoas, diz, ele, usam a instrução para resolver problemas de falta de tudo, não para ir para a rua lutar pela mudança.
Pergunto-lhe então se conhece alguns portugueses, se sabe se ainda há uma comunidade importante. Ri-se, e diz que conhece um único português: my wife, informa, acrescentando que a mulher não sabia quem era o pai, mas que toda a gente que a via afirmava ser filha do Matos, um português da Madeira. Disse-me que a mulher tinha cara de portuguesa, o que provocou algum espanto numa espanhol a que ouvia a conversa: o que é a cara de portuguesa? Não hesita: tem um ar mediterrânico, diz-me o homem que ri e diz ser genro de uma freira, que a filha foi educada nas dominicanas que a acolheram. Mostra-me uma fotografia; percebe-se que é mulata, pouco interessante fisicamente. Puxei pela cabeça mas não sei quem é o Matos, apesar de conhecer gente na, ou da, Madeira.
Por fim, o facto de ter estado no Zimbabwe permite-me contar este episódio sem vestígios de racismo: o homem do Zimbabwe fotografou todos os pratos que lhe serviram. Só quem lá esteve sabe o que isto significa.
Por fim, o facto de ter estado no Zimbabwe permite-me contar este episódio sem vestígios de racismo: o homem do Zimbabwe fotografou todos os pratos que lhe serviram. Só quem lá esteve sabe o que isto significa.
JdB
1 comentário:
Engraçado como aflora o 'racismo'. Se calhar sem pensar em tal...
Tal como aquele dito: 'depois de mim virá...'
Os humanos habituam-se (adaptam-se) a tudo. Aliás como as restantes formas de Vida.
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