23 abril 2020

Da oração (resposta a um comentário)

Visitante assíduo e assertivo, "ao" (assim se assina) escreveu o seguinte comentário ao meu post sobre pandemia e fé:

Ninguém é seguramente um cristão. Um cristão tem sempre dúvidas muito importantes acerca da sua Fé.
JdB, neste escrito Vexa não foi feliz. O que perdoo, porque é natural, tal afirmação é humana. Não será verdadeira, mas é natural.
Depois, o escrever que não acredita na oração é grave. A oração nada mais é do que nós conversarmos com Deus [como Adão fazia no Éden]. Escolhemos a intimidade.
Deus que disse que não lhe interessavam os sacrifícios; antes as obras.
Deus que tem um plano [divino] para o Universo.
Se reler os 10 Mandamentos, verá que são para um 'povo' reles, que colocava o seu conforto acima de tudo. Que sempre desprezou os seus irmãos das outras tribos. Repare o que se passou nos anos de 1930: os ricos foram para os EUA e o pobres, nos guetos, que se tramassem.
Mateus, um descendente de Levy, tribo encarregue de fazer as outras cumprir as regras religiosas, era desprezado por ser cobrador de impostos: num povo que venerava o dinheiro.
Levita sustentado, por lei, pelos outros judeus, trabalhando para os romanos? Mas que grande pecador.
Os fariseus, antes de se cruzarem com um publicano tinham, como regra, de se afastarem 9 passos, em semi-círculo, para não se contaminarem...
Tendo eu muitas costelas farisaicas, não o condeno porque sei que eu serei condenado.

***

Sobre o comentário - que agradeço pelo valor que acrescenta ao meu próprio pensamento - gostaria de dizer:

1) O dicionário (se fosse necessário recorrer-lhe) reforça o meu argumento: cristão é aquele que crê em Jesus Cristo, que segue os princípios do cristianismo. Assim sendo, não tenho uma dúvida quanto ao meu cristianismo: leio o que Cristo disse (ou aquilo que me dizem que Cristo disse, em que acredito) e é aquilo que faz sentido eu seguir. Talvez fizesse um esforço tremendo para procurar qualquer coisa sobre a qual pudesse dizer "eh pá! isto não! Com isto não concordo."

(Podia usar uma expressão engraçada que ouvi há uns tempos, "tal como disse Jesus Cristo, e com o qual estou de acordo...")

Assim, procuro ser cristão: o amor ao próximo, a justiça, a atenção aos desfavoráveis, as obras antes dos sacrifícios, as bem-aventuranças. Não é (só) fé, é uma prática de vida, um manual de procedimentos, o que dificulta a coisa....

2) Acredito na oração, mas não como forma de pedir a chuva e a interrupção da chuva, a cura de uma criança doente, a vitória num jogo de futebol, a descoberta de uma vacina. Acredito na oração para mudanças de comportamentos próprios ou alheios, para a tomada de consciência, para que tenhamos discernimento e força em doses suficientes para fazer deste mundo (ou do nosso pequeno mundo) um lugar melhor, para que cada um suporte a cruz que o destino lhe deu ou saiba dar sentido à sua vida. Acredito na oração para pedir milagres - mas os milagres da transformação humana, não os da cura do pé de atleta ou da artrose persistente.

3) Já fora da resposta ao comentário: apesar de todas as minhas críticas (que nem serão muitas...) não concebo a minha vida fora da Igreja Católica. Apesar de todos os defeitos que lhe encontro (e serão alguns) não concebo a minha vida fora da Igreja Católica. Acredito que haja salvação fora da Igreja Católica, mas eu quero salvar-me lá dentro.

JdB   

9 comentários:

Anónimo disse...

Acompanho-te.

Abr
fq

ACC disse...

Boa JdB e gosto destes desafios morais e intelectuais. Boa também para o seu leitor assíduo e assertivo que passeia, cheio de arte, sobre o fio da navalha.

Anónimo disse...

ACC,
na minha assertividade, porque os tenho no sítio, vá-se lixar.
ao
i.e., alcoólico anónimo

Anónimo disse...

JdB,
tenho um pouco de pena do que escrevi.
Mais pena tenho das tontices que aparecem sem você querer.
ao

JdB disse...

ao,

Deste vez não lhe agradeço a visita.

Cito em inglês (porque é em inglês que tenho o livro The Razor's Edge): "The sharp edge of a razor is difficult to pass over; thus the wise say the path to salvation is hard." (Katha Upanishad).

Conheço bem ACC. Poderia não conhecer, e interpretar apenas o comentário feito. Não consigo encontrar ponta de tontice nem nada que justifique o seu azedume ou falta de cortesia. ACC fez um comentário simpático e elogioso. Penso até que tem um português suficientemente escorreito para não haver margem para dúvidas quanto ao sentido do comentário. Assim sendo, nada - rigorosamente nada - justifica o teor da sua intervenção.

Este estabelecimento é pequeno, desconhecido e tem a importância de uma mosquinha morta, mas o seu princípio norteador não está de quarentena: não se ofende, não se insulta, não se é injusto. Ou é-se, e pede-se desculpa, porque horas infelizes todos temos.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Aprecio a eliminação de comentários.
ao

Anónimo disse...

E comento, como escrevi, porque tenho-os.
ao

Anónimo disse...

Você tem as suas mágoas. Eu tenho as minhas. Não havendo pudor ou respeito pelo próximo que se identifica, um blog ficará como um clube, tipo maçónico.
ao,
que você sabe que é.

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