Descobriram-se por acaso numa esquina larga, quando nada dava a entender que o cálculo das probabilidades exercesse os seus direitos. Olharam-se talvez enervados, surpresos, inesperados ambos por aquele encontro fortuito que só o acaso adiava. Beijaram-se com a estranheza do afastamento, com a saudade dos tempos antigos, com o incómodo dos caminhos divergentes. Pelos dois passou aquilo que os unia e afastava desde sempre e, nas mãos que se tocaram numa brevidade curta, houve um vislumbre de ternura apoquentada que a erosão do tempo foi matando. Despediram-se silenciosos, como estiveram sempre, com um beijo que um roubou ao outro (também se pode roubar um beijo se se presumir consentido?) e seguiram o seu caminho, cantarolando para dentro músicas diversas, feitas de sonhos e realidades, esperanças e desalentos, luz e escuridão, sons e silêncio. Só nessa altura o trânsito fluiu de novo, porque só nessa altura os dois cegos – que também eram surdos e mudos - desimpediram a estrada. Nunca ninguém saberá se se conheciam ou não porque, na sua limitação, nenhum dos dois conseguiu formular a pergunta (conheces-me?) que na realidade não poderia ouvir. Há histórias que parece não fazerem sentido, a não ser na mente de quem as escreve. Há histórias que estão votadas à incompreensão de todos, a não ser dos dois cegos, surdos e mudos.
As melhores viagens são, por vezes, aquelas em que partimos ontem e regressamos muitos anos antes
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1 comentário:
Há histórias que parecem só fazer sentido, na mente e no coração de quem as vive...
Há histórias que estão voltadas à incompreensão de todos, até às vezes a esses dois cegos, surdos e mudos...
Há histórias feitas de esperas e desalentos, luz e escuridão, sons e silêncio que apetecem continuar a viver...
Algum sentido haverá nestas histórias...
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