23 julho 2010

num café de viana, jeanne moreau

sentado num café sob as arcadas
arriscava o trapézio das palavras
em busca de zénite e de perfeição.

ignorava, rapaz que era outrora,
que nenhum poema se aproximaria
do teu rosto - plenipotenciária faísca.

agora, que quase caí do trapézio,
(o que explica o longo vocábulo)
rio-me dessa inocência.. juvenil

que teimava em ganhar com palavras
um jogo especioso e caprichoso.
sol de inverno? poesia? maresia?

disparate, poeta. o jogo, como dantes,
é esse teu rosto, esculpido e feminil.


gi.

5 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia Gi,

http://www.clubcine.com.br/capas/3625_capa.jpg

ML

Anónimo disse...

..ou seria o noivo que vestia tons escuros ;)?

flores,


gi.

Anónimo disse...

Pois vestia de certeza, e assim levou um tiro que foi que nem ginjas, fácil de acertar com tudo em branquinho, o que é que queria?
E, diga-me uma coisa, a JM é a JM ou uma figura de estilo,ou nada disso, antes pelo contrário?
ML

Anónimo disse...

Olá, ML, bom e luminoso dia!
Esse filme é um dos muitos filmes que me despertaram para a complexidade (e beleza) do mundo dos adultos, era eu ainda uma criança, algures na Beira Alta. Era a viragem dos anos setenta para os anos oitenta - the golden eighties just around the corner..
Eu sou daqueles para quem o cinema (clássico, antes da modernidade, digamos assim) é uma espécie de 'reino perdido', possível apenas de ser lembrado (e assim revivido).
Sempre gostei de filmes noir, de 'homens sózinhos, na rua mais solitária da cidade, perdidos mas nunca derrotados' (para usar uma expressão famosa de um célebre criador do chamado romance noir). Desse filme, captei o ar do tempo, o lado trágico, a coolness furtiva, e, penso que pela primeira vez, a beleza nada óbvia de jeanne moreau.
Quando escrevo poemas, escrevo sempre sobre o mundo e sobre mim, em doses que variam na sua proporção. Assim, a melhor resposta é dizer que nunca estive sentado 'num café de viana' e que, claro, nunca conheci a senhorita moreau. Mas esse café abstracto são todos os cafés.. em concreto; e essa mulher concreta são todas as mulheres.. em abstracto.
Melhor não sei dizer.
Flores, obrigado pelas suas palavras e bom Domingo.

gi.

Anónimo disse...

Gi,
Muito rapidamente antes de me aventurar nos 39 graus que estão lá fora: Truffaut explicou-me a fragilidade, a beleza do ser humano. Eu explico: há que ter o maior cuidado quando lidamos com os afectos do outro ou corremos o risco de criar danos irreparáveis que seguramente não desejamos. Foi, julgo, a primeira vez que compreendi isto - quando vi o filme. Poder-se-ia avançar mais e falar de Marketing, por exemplo. Neste caso, quando tive oportunidade de ver com mais profundidade o que se passa no mercado confesso que optei por não avançar na pesquisa para além do ponto onde me encontrava: é muitas vezes um mundo com regras com as quais eu não me identifico nem estou interessada nisso – apenas o suficiente para poder circular no mundo empresarial.
Depois há aquele aspecto da maior importância da expressão da pessoa em relação à beleza (traços fisionómicos) que o Gi designa por a ‘beleza nada óbvia de jeanne moreau’. Concordo consigo.
E obrigada pela sua resposta. Gosto sempre de tentar compreender coisas que não pertencem de um modo geral ao meu mundo de interesses talvez por isso mesmo, porque não compreendo.
ML

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