05 julho 2010

O dia em que morreu Sebastião

Sebastião sublinhava sempre o significado das soberbas subtilezas da vida que, sabia ele, servia sobretudo para ser saboreada. Defendia democraticamente as delicadas delícias diárias, deixando demorar os doces e desprezando as durezas. Conversava com a calma dos centenários e cultivava, comedido, controvérsias curiosas. Alegrava-o algaraviar alto, entre amigos, e andar ao acaso pelas aleias de árvores da aldeia. Escutava encolhido, escultural, estranhamente entretido e de esgar estreito. Versátil no verbo e vivo de visão, era virtuoso, veemente e vincado de valores e virtudes.

Sebastião segredou, num sopro, os seu derradeiros dizeres, contando que chegassem para acalmar as angústias de quem esperava estarrecido a morte do mais verdadeiro velho da vida. No dia em que morreu.

ZdT

2 comentários:

JdB disse...

Excelente jogo de início de palavras, ZdT.
Obrigado

ZdT disse...

Ora essa João, eu é que agradeço o espaço =).

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