01 novembro 2010

Era uma vez um amor que dura para sempre

Era uma vez um jardim em Reguengos. Tantas histórias que aquele jardim deve ter tido… Tão feliz que aquele jardim deve ter sido... Mas havia um homem que chorava. Depois de nos contar que não valia a pena ir ver a igreja porque o padre “roubou tudo para comprar coisas para ele”, contou porque chorava…

Ela usava calças porque era Maria-rapaz, ele usava calças de cabedal só porque sim. Todos lhe chamavam “bandido” e era o rapaz mais cobiçado de Reguengos. Tinham quinze anos e apaixonaram-se naquele jardim onde tanta gente tinha sido feliz. Eles foram outros a manter a tradição. Casaram-se novos e ele tornou a rapariga “uma mulher séria”, e a viver apaixonada pelo “homem mais parecido com um actor de cinema” da região.

Foram viver para a outra parte do mundo e foram felizes durante muitos anos. Assistiram a vários eclipses juntos e acharam que era o universo a celebrar o amor deles. Tiveram filhos, netos e voltaram para Reguengos para adormecer todos os dias de mãos dadas, com a mesma felicidade dos quinze anos, quando ele era um gabarola e ela gostava de futebol.

O Sr. Vítor e a D. Maria criaram uma vida, tiveram uma história de amor e foram guardados pela cadela Pastor Alemão, chamada Diana em homenagem à princesa. Era uma história de amor incrível, e sentámo-nos a ouvir a vida dele que incluía sempre a mulher. No fim, encostou-se com um ar cansado e disse: “ela faz-me tanta falta”, e chorou, chorou com a tristeza de alguém a quem tinha sido arrancado uma parte. Tinha feito um mês que a mais que tudo daquele homem cansado e velho tinha morrido.

O Sr. Vítor estava sozinho, sozinho com um cão e um lado da cama vazio e feito. As calças de cabedal tinham agora pó e estavam guardadas no armário, a casa estava escura e com um ar triste. A sala estava cheia de molduras, garrafas de whisky, memórias e nada.

Prometemos voltar e tenciono cumprir. Disse-me que nunca se iria esquecer de mim, que eu tinha mudado o dia dele e que Deus me ia pagar. Quando falou em Deus disse-lhe que ia rezar por ele: “sim menina, mas não reze na igreja que o Padre roubou”. Perguntei-lhe em segredo se ia a alguma igreja, e disse-me que ainda não tinha feito as pazes com Deus. “Não é por me ter levado a mulher, mas porque ainda não me levou a mim”. Nem os filhos, nem os netos animaram a tristeza daquele homem por ter ficado sem a Maria.

No fim, voltei para casa com a garrafa de whisky que o Sr. Vítor me oferecera por ter acalmado o coração dele, com um abraço e uma dose de lágrimas que enchia uma garrafa do tamanho daquela que me dera.

Era um jardim feliz, com um homem triste. Sabem o que é que me encheu o coração?Saber que há amores que duram para sempre.

TdB

6 comentários:

Anónimo disse...

How inspired were you today TdB? Gostei muito (like like like). mfm

Anónimo disse...

Que história bonita e bem contada!
fq

maf disse...

Fiquei com dúvidas se se tratava de uma história ou de um relato vivencial. Num ou noutro caso, transparece a doçura de quem ama.
Muito bonito, TdB

Anónimo disse...

MFM, very inspired, you'll know why, weel, I guess you already know. Rachael Yamagata turned out to be very inspiring.
FQ, obrigada :)
Maf, vivencial, penso no senhor todos os dias ainda e tenho a garrafa que ele me deu guardada.
Bjs, TdB

Anónimo disse...

sabes! Rachael Yamagata é a solução para muitas situações, e agora percebo que uma inspiração tb... ;) mfm

arit netoj disse...

Querida Teresa,
Soube-me tão bem esta história...
Obrigada e beijinhos

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