Ingénuos e persistentes leitores,
Nunca, nem sequer nos meus tempos de juventude mais desbragada (enfim, o que isso queira dizer num homem pouco dado a excessos) rocei politicamente pela esquerda.
(suspendo momentaneamente a escrita para procurar, nos recônditos da minha memória, se rocei pela esquerda de uma forma mais carnal, mas também não me parece, que até nisso sou conservador).
A minha carreira política, retomando um fio condutor mais sério, passou sempre pelo centro direita. Fui militante do CDS, fiz parte do grupo de energúmenos que, numa época mais quente, se deitou a Évora a colar cartazes e a pintar paredes. Sim, queridos leitores, a adolescência selvagem levou-me a conspurcar o praça do Giraldo com frases criativas que apelavam ao voto no partido do centro. Numa mão a trincha com a tinta que sujava as magníficas arcadas. Na outra mão uma matraca, porque os comunistas, tal como os beduínos, velavam ao longe.
Fiz militância em Cascais, no CDS local, onde usámos de maior criatividade e de menos selvajaria, porque as paredes eram menos históricas. À célebre frase a terra a quem a trabalha, respondíamos com provocação inócua: e os comboios a quem anda neles... Momentos de rara inspiração, digo-vos. Estive ainda no comício da Juventude Centrista em Novembro de 74, no teatro S. Luís, e na sede do largo do Caldas quando, num qualquer 1 de Maio, se temia que fosse assaltada.
Fui a comícios do PPM (um, na Voz do Operário, se me lembro), defendi bancadas no liceu de S. João do Estoril, fiz parte de mesas eleitorais, achei ingenuamente que a minha altura acima da média me dava prerrogativas de segurança, um homem que tem tanta experiência de pancadaria como de comida cantonesa. Nunca levei mais do que um empurrão, nunca dei mais do que um empurrão. Em muitos episódios estive com o meu amigo e colega bloguista JdC, com quem tenho memórias memoráveis (sim, a redundância é propositada...) em Borba nos idos anos de 74 e 75. No que a ele diz respeito não sei, mas o meu corpo e a minha alma não mostram feridas desse combate político. Memórias, apenas - e vagamente desinteressantes...
A par disto fui amigo de comunistas, de outros que se identificavam politicamente como sendo republicanos (melhor seria que não fossem, descendentes que eram de dois presidentes da república) mas sem acinte contra o meu nome, e de outros ainda que viviam com um arma contundente no carro, sussurrando uma conspiração inspirada pelas iniciais ELP e MDLP, traficando panfletos na penumbra das esquinas.
Hoje partilho convosco Zeca Afonso, surpreendentes leitores de convicções políticas que desconheço, mas intuo. Alguns de vós esfregarão de contentamento as mãos finas, aforrando argumentos para zurzir as minhas opções musicais. Outros seguirão para o blogue seguinte, alegando as baixas de tensão que sempre nos provocam as coisas maçadoras. Restarão dois, quiçá três (oh! ingenuidade...) que apreciarão este momento - ou o suportarão estoicamente.
Sejam felizes - e respeitem o editor e dono do estabelecimento.
JdB