Para quem gosta de
viajar, i.e., de conhecer os recantos mais ínfimos e misteriosos do planeta, as
incursões na natureza profunda, até às paisagens menos acessíveis e de maior autenticidade, são o sonho de um
viajante.
Não por acaso, há quem
associe uma nova exploração a uma música específica. Como se houvesse uma banda
sonora para cada viagem. Talvez porque sempre me tenha acontecido isso, me
pareça quase uma evidência que o mini-documentário sobre alguns dos maiores horizontes
do planeta tenha em fundo a música
contemplativa do compositor japonês Kitaro, vencedor de um Grammy, em 2001.
As suas composições muito
suaves acompanham a curta-metragem sugerida no final deste gin – «SILK ROAD» – a
evocar a célebre rota por onde as riquezas orientais chegavam ao Ocidente. Como
no relato mais poético da criação do mundo (no Génesis), as primeira imagens
focam a imensidão dos oceanos, com blocos de gelo flutuantes, na perspectiva de
uma gaivota a planar sobre as ondas e bordejando a terra, a mostrar uma extensa
orla marítima, onde se começa a desenhar uma muralha de rochas esguias, a
delimitar o curso dos mares.
Depois, a câmara inicia uma
escalada por uma cordilheira, até aos pináculos das montanhas de neves eternas,
em paisagens inalcançáveis para os humanos. Ali, sobressaem os cumes negros,
afiados pelas rajadas cortantes das grandes altitudes (aos 6:13). Curiosamente,
a partir dos 4.500m de altitude fala-se de «zona de morte», para aludir a um
patamar de sobrevivência de alto risco, em regiões quase intocadas pela
humanidade. Junto às cristas rochosas do topo da cordilheira, desvenda-se a
linha invisível onde a terra dá lugar ao céu e o universo mergulha no horizonte
mais infinito. Verdadeiramente, mais próximo do céu…
Tudo de
uma beleza comovente e sagrada!
Das águas frisadas pelo
vento, de onde se eleva uma poalha húmida, a câmara esgueira-se para uma
tempestade de neve nas montanhas geladas, contagiando-nos de um frio agreste, que
acalma quando se avista um coelho branco e fofo, a saltitar pela planura nevada.
Surge, em seguida, uma manada de iaques de aspecto prehistórico a ocupar todo o
ecrã. O brilho níveo da superfície glaciar amplia as dimensões de um espaço
incrivelmente imponente no seu monocromatismo.
Interceptamos, depois, a
caminhada de um urso polar, que avança pesadamente rumo às montanhas. Num ponto
preciso, algures a meio da vertente, o mamífero, bem protegido por uma camada
densa de pêlo macio, escava um buraco para se entranhar nas profundezas da
terra e, provavelmente, ali pernoitar. Talvez esteja a recuperar um abrigo já
conhecido, naquelas paragens.
De facto, toda a fauna
está no seu habitat natural, numa região inóspita mas magnífica.
Autenticamente, de uma beleza para lá das possibilidades de vida… pelo menos, humana.
Esta é uma viagem onde
mal se distingue o Verão do Inverno, em territórios fustigados por rajadas de
ventosidade livres e extremas, por um sol abrasador e sem filtros atenuantes,
ou pelas temperaturas gélidas das máximas altitudes. O esplendor da natureza
revela-se em estado virgem. Por isso é tão imperdível! Lembrou-me a frase
espantosa de Dostoieski – «A beleza salvará o mundo»(1), ideal (creio)
para desejar a todos a continuação de um
tempo de férias (ou já de volta ao trabalho) maravilhoso.
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico,
para daqui a 2 semanas)
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(1)
Proferido
pela personagem de «O Idiota»: o príncipe Miskin.
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