27 agosto 2012

Vai um gin do Peter's?


Para quem gosta de viajar, i.e., de conhecer os recantos mais ínfimos e misteriosos do planeta, as incursões na natureza profunda, até às paisagens menos acessíveis e de maior autenticidade, são o sonho de um viajante.

Não por acaso, há quem associe uma nova exploração a uma música específica. Como se houvesse uma banda sonora para cada viagem. Talvez porque sempre me tenha acontecido isso, me pareça quase uma evidência que o mini-documentário sobre alguns dos maiores horizontes do planeta tenha em fundo a música contemplativa do compositor japonês Kitaro, vencedor de um Grammy, em 2001.

As suas composições muito suaves acompanham a curta-metragem sugerida no final deste gin – «SILK ROAD» – a evocar a célebre rota por onde as riquezas orientais chegavam ao Ocidente. Como no relato mais poético da criação do mundo (no Génesis), as primeira imagens focam a imensidão dos oceanos, com blocos de gelo flutuantes, na perspectiva de uma gaivota a planar sobre as ondas e bordejando a terra, a mostrar uma extensa orla marítima, onde se começa a desenhar uma muralha de rochas esguias, a delimitar o curso dos mares.
 
Depois, a câmara inicia uma escalada por uma cordilheira, até aos pináculos das montanhas de neves eternas, em paisagens inalcançáveis para os humanos. Ali, sobressaem os cumes negros, afiados pelas rajadas cortantes das grandes altitudes (aos 6:13). Curiosamente, a partir dos 4.500m de altitude fala-se de «zona de morte», para aludir a um patamar de sobrevivência de alto risco, em regiões quase intocadas pela humanidade. Junto às cristas rochosas do topo da cordilheira, desvenda-se a linha invisível onde a terra dá lugar ao céu e o universo mergulha no horizonte mais infinito. Verdadeiramente, mais próximo do céu…

Tudo de uma beleza comovente e sagrada!

Das águas frisadas pelo vento, de onde se eleva uma poalha húmida, a câmara esgueira-se para uma tempestade de neve nas montanhas geladas, contagiando-nos de um frio agreste, que acalma quando se avista um coelho branco e fofo, a saltitar pela planura nevada. Surge, em seguida, uma manada de iaques de aspecto prehistórico a ocupar todo o ecrã. O brilho níveo da superfície glaciar amplia as dimensões de um espaço incrivelmente imponente no seu monocromatismo.

Interceptamos, depois, a caminhada de um urso polar, que avança pesadamente rumo às montanhas. Num ponto preciso, algures a meio da vertente, o mamífero, bem protegido por uma camada densa de pêlo macio, escava um buraco para se entranhar nas profundezas da terra e, provavelmente, ali pernoitar. Talvez esteja a recuperar um abrigo já conhecido, naquelas paragens.

De facto, toda a fauna está no seu habitat natural, numa região inóspita mas magnífica. Autenticamente, de uma beleza para lá das possibilidades de vida… pelo menos, humana.    

Esta é uma viagem onde mal se distingue o Verão do Inverno, em territórios fustigados por rajadas de ventosidade livres e extremas, por um sol abrasador e sem filtros atenuantes, ou pelas temperaturas gélidas das máximas altitudes. O esplendor da natureza revela-se em estado virgem. Por isso é tão imperdível! Lembrou-me a frase espantosa de Dostoieski – «A beleza salvará o mundo»(1), ideal (creio) para desejar a todos  a continuação de um tempo de férias (ou já de volta ao trabalho) maravilhoso. 



Maria Zarco
(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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(1) Proferido pela personagem de «O Idiota»: o príncipe Miskin.

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