Skyfall e a
dupla Capricórnio -Saturno
Aqui está 2013, passou mais um ano, estou um ano mais velha.
Não preciso do calendário para me lembrar da minha idade porque cada vez que
olho para um espelho e vejo a minha cara, penso “O que está a minha mãe a fazer aqui?”. Apropriadamente, Sol está em
Capricórnio (desde 21 de Dezembro), signo regido pelo planeta Saturno, energia
associada com a passagem do tempo. Nestes dias do fim-do-ano o Sol está conjunto
a Plutão, também em Capricórnio, intensificando a energia saturnina e, no meu
caso, pensamentos à volta da inevitabilidade da passagem do tempo. E depois fui
ver Skyfall… o último James Bond, e então é que mergulhei profundamente no arquétipo
de Saturno.
ATENÇÃO:
Desfecho de Skyfall revelado aqui
E que tem um filme como Skyfall a ver com Saturno? Em
astrologia, Saturno representa o princípio do limite, da estrutura, da
realidade. Rege a tradição, o tempo, o passado, o envelhecimento, a morte e fim
de ciclos. Saturno é o planeta associado às consequências das nossas acções, às
confrontações com o nosso passado, com a nossa mortalidade, e com o karma. Parte
desta interpretação deriva da mitologia do deus romano Saturno e do seu
antecessor grego Cronos de quem herdamos as palavras ligadas à passagem do tempo, como cronómetro e cronologia. Na mitologia clássica, o deus Saturno, apesar de
ser muito poderoso, tinha medo de ser substituído pela nova geração e por isso
engoliu os filhos. Esta estratégia não resultou nem na mitologia, sendo Saturno
destituído do seu poder, e nem resulta na vida real, porque a passagem do tempo
é inevitável.
Em Skyfall, James Bond começa por morrer, mas evidentemente
que reaparece vivo. Esta parte do filme introduz imediatamente o tema plutónico
de morte e renascimento. Porém, ao contrário do que diz o proverbio “o que não mata, fortalece”, o nosso herói
renasce mais fraco, mais cansado, mais velho, cheio de dúvidas sobre o seu
trabalho, o seu passado e o seu chefe.
O seu autoritário chefe M, figura saturnina que toma
decisões difíceis e impiedosas baseadas na realidade, é maravilhosamente
interpretado por Judi Dench. M, julgando 007
morto, escreve o seu óbito, ao mesmo tempo que o superior dela, um homem mais
novo, lhe pede para se reformar. As duas personagens principais deste filme (o
vilão máximo não é, no meu entender uma delas) têm que confrontar a sua
relevância e o seu papel no mundo actual. Ainda serão úteis ou são dinossauros
em vias de extinção, relíquias do passado? James Bond já não é o atirador que
acerta sempre no alvo e fica com os bofes pela boca depois de ter nadado umas piscinas.
M resiste à ideia da reforma mas as circunstâncias e uma bala põem fim à sua
carreira.
A inevitabilidade da passagem do tempo no confronto com nova
geração é tratada com a substituição do velho Q, que inventava os gadgets de
James Bond, por um “computer geek” muito novinho e ilustrada por este diálogo
delicioso:
Q: 007. I'm your
new Quartermaster.
James Bond: You
must be joking...
Q: Why? Because I'm
not wearing a lab coat?
James Bond: Because
you still have spots.
Q: My complexion is
hardly relevant.
James Bond: Your
incompetence is.
Q: Age is no
guarantee of efficiency.
James Bond: And
youth is no guarantee of innovation.
Apesar da trama principal girar à volta de um problema actual
de segurança internética, as chamadas ao passado são múltiplas: o Aston Martin,
carro famoso de Goldfinger, volta a entrar em cena para ser inteiramente destruído
no último combate. O icónico martini “shaken, not stirred” é substituído por
whisky Macallan de 50 anos, isto é, de 1962 o ano em que saiu “Dr. No”, o
primeiro filme da série 007.
James Bond sentiu a necessidade de revisitar o seu
passado regressando à sua casa de infância, Skyfall, onde os seus pais foram assassinados.
Esta propriedade, ao dar o nome ao filme, ganha uma enorme importância, e revela
uma das leituras possíveis: há épocas em que, por mais negro que tenha sido o
passado, temos que o confrontar, porque senão não há futuro. Essa é uma das
grandes lições de Saturno. É em Skyfall que se dá o desfecho final que vai
permitir ao herói reconstruir o futuro, um futuro diferente, com
relacionamentos novos.
Skyfall, o filme, não é como os anteriores James Bond’s,
um shot de adrenalina para ser engolido de um trago, mas deve ser saboreado
como o whisky de 50 anos pela sua complexidade, pela riqueza das suas nuances, incluindo
as mitológicas e astrológicas.
Luiza Azancot
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