02 janeiro 2013

Diário de uma astróloga – [42] – 2 de Janeiro de 2013

Skyfall e a dupla Capricórnio -Saturno

Aqui está 2013, passou mais um ano, estou um ano mais velha. Não preciso do calendário para me lembrar da minha idade porque cada vez que olho para um espelho e vejo a minha cara, penso “O que está a minha mãe a fazer aqui?”. Apropriadamente, Sol está em Capricórnio (desde 21 de Dezembro), signo regido pelo planeta Saturno, energia associada com a passagem do tempo. Nestes dias do fim-do-ano o Sol está conjunto a Plutão, também em Capricórnio, intensificando a energia saturnina e, no meu caso, pensamentos à volta da inevitabilidade da passagem do tempo. E depois fui ver Skyfall… o último James Bond, e então é que mergulhei profundamente no arquétipo de Saturno.

ATENÇÃO: Desfecho de Skyfall revelado aqui


E que tem um filme como Skyfall a ver com Saturno? Em astrologia, Saturno representa o princípio do limite, da estrutura, da realidade. Rege a tradição, o tempo, o passado, o envelhecimento, a morte e fim de ciclos. Saturno é o planeta associado às consequências das nossas acções, às confrontações com o nosso passado, com a nossa mortalidade, e com o karma. Parte desta interpretação deriva da mitologia do deus romano Saturno e do seu antecessor grego Cronos de quem herdamos as palavras ligadas à passagem do tempo, como cronómetro e cronologia. Na mitologia clássica, o deus Saturno, apesar de ser muito poderoso, tinha medo de ser substituído pela nova geração e por isso engoliu os filhos. Esta estratégia não resultou nem na mitologia, sendo Saturno destituído do seu poder, e nem resulta na vida real, porque a passagem do tempo é inevitável. 

Em Skyfall, James Bond começa por morrer, mas evidentemente que reaparece vivo. Esta parte do filme introduz imediatamente o tema plutónico de morte e renascimento. Porém, ao contrário do que diz o proverbio “o que não mata, fortalece”, o nosso herói renasce mais fraco, mais cansado, mais velho, cheio de dúvidas sobre o seu trabalho, o seu passado e o seu chefe.

O seu autoritário chefe M, figura saturnina que toma decisões difíceis e impiedosas baseadas na realidade, é maravilhosamente interpretado por Judi Dench.  M, julgando 007 morto, escreve o seu óbito, ao mesmo tempo que o superior dela, um homem mais novo, lhe pede para se reformar. As duas personagens principais deste filme (o vilão máximo não é, no meu entender uma delas) têm que confrontar a sua relevância e o seu papel no mundo actual. Ainda serão úteis ou são dinossauros em vias de extinção, relíquias do passado? James Bond já não é o atirador que acerta sempre no alvo e fica com os bofes pela boca depois de ter nadado umas piscinas. M resiste à ideia da reforma mas as circunstâncias e uma bala põem fim à sua carreira. 

A inevitabilidade da passagem do tempo no confronto com nova geração é tratada com a substituição do velho Q, que inventava os gadgets de James Bond, por um “computer geek” muito novinho e ilustrada por este diálogo delicioso:


Q: 007. I'm your new Quartermaster.

James Bond: You must be joking...

Q: Why? Because I'm not wearing a lab coat?
James Bond: Because you still have spots.
Q: My complexion is hardly relevant.
James Bond: Your incompetence is.
Q: Age is no guarantee of efficiency.
James Bond: And youth is no guarantee of innovation.

Apesar da trama principal girar à volta de um problema actual de segurança internética, as chamadas ao passado são múltiplas: o Aston Martin, carro famoso de Goldfinger, volta a entrar em cena para ser inteiramente destruído no último combate. O icónico martini “shaken, not stirred” é substituído por whisky Macallan de 50 anos, isto é, de 1962 o ano em que saiu “Dr. No”, o primeiro filme da série 007.

James Bond sentiu a necessidade de revisitar o seu passado regressando à sua casa de infância, Skyfall, onde os seus pais foram assassinados. Esta propriedade, ao dar o nome ao filme, ganha uma enorme importância, e revela uma das leituras possíveis: há épocas em que, por mais negro que tenha sido o passado, temos que o confrontar, porque senão não há futuro. Essa é uma das grandes lições de Saturno. É em Skyfall que se dá o desfecho final que vai permitir ao herói reconstruir o futuro, um futuro diferente, com relacionamentos novos. 


Skyfall, o filme, não é como os anteriores James Bond’s, um shot de adrenalina para ser engolido de um trago, mas deve ser saboreado como o whisky de 50 anos pela sua complexidade, pela riqueza das suas nuances, incluindo as mitológicas e astrológicas.

Luiza Azancot


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