24 janeiro 2013

Textos dos dias que correm

A Igreja Católica assinala hoje a memória de S. Francisco de Sales, bispo e doutor da Igreja de origem francesa, patrono dos jornalistas, autores, escritores e surdos-mudos. Curiosamente - até porque não me lembrava da efeméride - hoje era o dia que escolhera para ler, pela última vez, o meu ensaio para a pós-graduação, ao qual dera o título de A Santidade, ou a Perfeição das Vidas Quotidianas. Li o texto abaixo e voltei a acreditar no filósofo que falava das coincidências significativas...

JdB

***


Na criação Deus ordenou às plantas que produzissem os seus frutos, cada qual segundo a sua espécie; do mesmo modo ordena Ele aos cristãos, que são as plantas vivas da sua Igreja, que produzam frutos de devoção, cada qual segundo a sua qualidade, o seu estado e a sua vocação.
A devoção deve ser exercida de maneira diferente pelo fidalgo e pelo operário, pelo criado e pelo príncipe, pela viúva, a solteira ou a mulher casada; e não somente isto: é necessário acomodar o exercício da devoção às forças, aos trabalhos e aos deveres de cada pessoa em particular.
Pergunto-vos, Filoteu, se estaria certo que um bispo quisesse viver na solidão como os Cartuxos; que os casados não quisessem amealhar mais que os Capuchinhos; que o operário passasse o dia na Igreja como o religioso; e que o religioso estivesse sempre sujeito a toda a espécie de encontros para serviço do próximo como o bispo. Não seria ridícula, desordenada e inadmissível tal devoção?
Contudo este erro acontece frequentemente. E no entanto, Filoteu, a devoção não prejudica ninguém quando é verdadeira, antes tudo aperfeiçoa e consuma; e quando se torna contrária à legítima ocupação de alguém, é sem dúvida falsa.
A abelha extrai o mel das flores sem lhes fazer mal, deixando-as intactas e frescas como as encontrou; todavia, a verdadeira devoção age melhor ainda, porque não somente não prejudica qualquer espécie de vocação ou de tarefa, como ainda as engrandece e embeleza.
Todas as variedades de joias lançadas no mel se tornam mais brilhantes, cada qual segundo a sua cor; assim também cada um se torna mais agradável e perfeito na sua vocação se esta for conjugada com a devoção: a atenção à família torna-se mais paciente, o amor entre marido e mulher mais sincero, mais fiel o serviço que se presta ao príncipe, e mais suave e agradável o desempenho de todas as ocupações.
É um erro, se não mesmo uma heresia, querer banir a vida devota do regimento dos soldados, da oficina dos operários, da corte dos príncipes, do lar das pessoas casadas. É certo, Filoteu, que a devoção puramente contemplativa, monástica e religiosa não pode exercer-se em tais ocupações; mas para além destas três espécies de devoção, existem muitas outras próprias para o aperfeiçoamento daqueles que vivem nos estados seculares.
Onde quer que estejamos, podemos e devemos aspirar à vida perfeita.
S. Francisco de Sales, texto retirado daqui

4 comentários:

Anónimo disse...

Sábio texto!
Abr
fq

ALA disse...

Copio fq,
Sábio texto.
Toca num tecla que me incomoda com frequência que é a da devoção desordenada e ridícula.
Afinal há um tempo para tudo, até para a perfeição.
Bom dia JdB

Rita Freitas disse...

Interessante, este texto.

bjs

arit netoj disse...

Bendito serendipismo! Condimenta as nossas vidas...
Beijinhos

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