11 junho 2013

Duas últimas

Fotografia do homem de Azeitão, José Manuel Arriaga e Cunha, de quem sou amigo, com quem estive na 6ªfeira e a quem pedi uma fotografia relacionada com procura, sabedoria, essas coisas... Mandou-me três, que publicarei a seu tempo


Aqui há algumas semanas escrevi sobre confiança, num post que incluía outras minudências, farrapos da minha vida quotidiana que por vezes só eu entendo, ou que nem eu entendo porque tudo fica a pairar na minha cabeça sem grande nexo, sem um molde que lhe dê forma. Fazia-me falta recordar uma frase que ouvi na penúltima aula da minha pós-graduação: a escrita tem uma função reparadora. Mas sinto, e não vou reclamar um sentimento que me seja específico e exclusivo, que tenho muito mais pensamentos na cabeça do que capacidade para os processar. Nada disto terá a ver com inteligência, cultura, intelectualidade. Talvez seja apenas uma curiosidade ingénua ou, como me dizia alguém próximo, uns olhos que não param quietos.

Caminho para a última aula da pós-graduação a que me desafiaram há um ano. Guardarei alguns pormenores mais prosaicos para outras núpcias. Agora penso no que aprendi, no que não sabia e já sei; penso naquilo que achava que sabia e que confirmei desconhecer por completo. Se me pedirem uma palavra para caracterizar este ano hesito e recuso o pedido, por incapacidade de sintetizar. Ocorre-me desafio, inquietação, desinstalação, amplitude, expansão. Os que não me conhecem imaginarão uma presunção na escolha das palavras, um novo-riquismo de vocabulário. Os que me conhecem bem perceberão que não é isso. Os que me pressagiam olhos permanentemente peregrinos intuirão que há aqui uma ligeiríssima angústia: o que faço com tudo isto de que me falaram nas aulas e que me abriu os olhos para tantas coisas? O que faço com tudo isto que que oiço e leio, que percebo que existe mas que eu não sei agarrar, moldar com as mãos, conferir-lhe um formato que se possa por numa estante da sala ou numa mesa de cabeceira, porque cada lugar tem a sua beleza e a sua importância metafóricas na vida de um homem?

Comecei este post pela ideia de confiança e perdi-me nos caminhos que trilhei. Mas perdi-me confiado, confesso, porque sei, a cada dia que passa, da importância de se ter confiança. Há o saber porque se acha que é assim que tem de ser; mas há o saber que advém das evidências, das sensações, dos acasos, dos sinais, da experiência. Há alguns anos, um homem com quem converso amiúde dizia-me que não é o tempo que cura o que quer que seja, mas a qualidade do tempo. Talvez eu tenha usado o meu tempo com qualidade. E só isso seja motivo de confiança.

Deixo-vos com Obsesion, dos senhores Bebo Valdes e Diego El Cigala. Porque também de obsessões se constrói a beleza da vida.

JdB

           

2 comentários:

ALA disse...

Talvez fazer nada! por enquanto nada, porque tal como tudo na sua vida, tem um tempo. Deixe macerar, pense que tudo se encaixará e que consigo quase nada acontece por acaso ou em vão.
Nota: Isto podia ter sido dito por si. Não escrito, mas dito.

La disse...

Gostei muito do perdido com confianca.

Acerca de mim

Arquivo do blogue