01 setembro 2020

Das redes sociais

 Nunca quis ter Facebook. Não foi uma embirração; talvez tenha sido o temor da distração, pois trabalhava em casa e vivia sozinho, um conjunto que podia ser propício a uma certa improdutividade. Falaram-me nos encantos da rede social, nomeadamente a possibilidade de encontrarmos gente que não víamos há muitos anos. Nem isso me entusiasmou, pelo receio de pouco ter a dizer ou a ouvir dessas pessoas após décadas de ausência de convívio. Hoje, passados tantos anos do advento do Facebook, não estou arrependido, muito pelo contrário. Quando chegou à altura, também não aderia ao Instagram nem ao Twitter. Nada me motiva a isso, para além de não querer distracções. As vária actividades da minha vida parecem-me (e reforço o "parecem-me") incompatíveis com uma frequência assídua das redes sociais.

Não fui investigar, mas sei que a Dolores Aveiro tem milhares e milhares de seguidores no Instagram; penso que acontece o mesmo com a Cristina Ferreira e com outras pessoas do jet set, talvez actores e actrizes das telenovelas e fotógrafos, modelos, artistas diversos. Um dia destes dei por mim a pensar por que motivo se quererá seguir a Dolores Aveiro e a Cristina Ferreira no Instagram. São pessoas por quem tenho respeito, seja pelas qualidades humanas que revelam, ou apenas porque sim. Mas a pergunta persiste: por que motivo quereria eu saber o que fazem ambas as senhoras na vida do seu dia a dia?

O conceito de seguir alguém no Instagram é-me bizarro. Fiz a pergunta: da primeira vez responderam-me que tanto a Dolores Aveiro como a Cristina Ferreira podem ser detentoras de características (elevada auto-estima, sucesso profissional) que as pessoas gostariam de ter também. Quando alguém me contou que segue uma familiar afastada e que essa pessoa partilha patetices, perguntei de novo. Responderam-me que todos gostamos de saber da vida dos outros. Duas respostas diferentes, de duas pessoas diferentes.

Sou do tempo da Hola!; conheci e conheço pessoas que eram / são compradoras. A Hola! é o Instagram dos tempos modernos? Não sei. Seguir a Isabel Pantoja ou a Isabel Preysler ou os toureiros que nos recebiam nas suas quintas era ver uma certa elegância, um certo estilo de vida que podia provocar alguma inveja, para além de ideias de decoração de interiores. Seguir uma prima que diz inutilidades significa o quê? Seguir a Dolores Aveiro ou a Cristina Ferreira ou um actor de telenovela suscita o quê? O que aprendemos? É apenas voyeurismo?

Nada me move contra nenhum nome que aqui citei. A minha pergunta é "sociológica": quando seguimos alguém de que estamos à espera? Queremos aprender alguma coisa ou, como me disseram ontem, "toda a gente gosta de saber como vivem os outros..."? 

JdB

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