22 setembro 2020

"O dilema das redes sociais"

O título que encima este post refere-se a um documentário que passa na Netflix, e cujo trailer pode ser visto aqui. Recomendo vivamente a atenção a estas 1h34', que "explora[m] o perigoso impacto das redes sociais nas pessoas, com especialistas em tecnologia a soarem o alarme sobre as suas próprias criações."  

As redes sociais no que me diz respeito (e ainda que por motivos diferentes) afectam duas gerações: a minha e a dos meus filhos. Afectará ainda quem tem netos crianças / jovens, acima dos 11 ou 12 anos. A maneira como afecta é, no entanto, diferente, com um grau de perigosidade diferente para este último escalão etário.

Aqui há algumas semanas escrevi sobre uma rede social específica (o Instagram), manifestando o meu espanto pelo facto de haver gente que quer seguir gente. Não gente vulgar a seguir gente invulgar, mas gente vulgar a seguir o seu semelhante. A Maria que quer seguir o que o Manel faz, ou vice-versa. Gente que segue amigos, ou que segue a Cristina Ferreira ou a Dolores Aveiro. Gente que me diz claramente que é motivada pela curiosidade. 

O documentário em apreço aborda pouco esta dimensão. Aborda, sobretudo, a manipulação dos impulsos de consumo, a viciação, a exposição, o isolamento e, muito importante também, uma certa perda do sentido crítico. Embora não saiba pormenores, percebi que houve um movimento criado através destas plataformas (ou outras, sei lá eu...) que levava as pessoas a acreditar que a Terra era plana; teve, ao que parece, grande adesão. Mas quem fala na planeza da Terra fala de outros temas mais verosímeis, da área da política actual. Eestas dimensões - adição, exposição, influenciação, etc., afectam, talvez, gente mais nova.

No caso da minha geração ou da geração dos meus filhos as redes sociais têm outros impactos, nomeadamente a exposição dos filhos (ainda que seja, dizem-me, bastante segura). Nalguns casos, a impossibilidade (penso que acontece no Facebook, mas não afianço) de eliminar as fotografias que se colocam, pelo que a imagem de uma criança de cuecas na praia fica na net para sempre, mesmo que o adulto que já foi esta criança não goste da situação.

Há ainda outro problema, que me incomoda particularmente: a utilização excessiva do telemóvel, como se, à mesa da refeição, fosse algo que existe entre um cérebro e um garfo e que, por isso, tem de estar ao lado do guardanapo; e a perda de tempo (em bom rigor, ler um livro ou conversar com alguém é sempre mais útil do que saber o que a Cristina Ferreira veste ou a que restaurante foram as dezenas de pessoas que outras pessoas seguem). Ainda me questiono sobre a ideia que pensam pessoas têm de si próprias, ao acharem que a maior parte das suas vidas é motivo de curiosidade (quase) diária para quem quer que seja. 

Vejam O Dilema das Redes Sociais. Não se arrependerão.

JdB

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