19 fevereiro 2021

Das videoconferências

Assumi responsabilidades internacionais numa ONG a meio da pandemia - Outubro de 2020. Em condições normais o Board desta associação reunir-se-ia duas vezes por ano: em Outubro, por alturas do congresso mundial, e a meio do ano. O resto do trabalho inerente à função (contactos diversos) seria feito através da troca de e-mails. 

O confinamento veio alterar a dinâmica por completo. De duas reuniões presenciais por ano, o Board passou a ter seis virtuais, obviamente mais pequenas. A troca de emails não cessou, mas as videoconferências aumentaram exponencialmente. Em boa verdade não aumentaram - começaram a existir; de uma por ano, talvez (via Skype) passei para cinco ou seis por semana. Reuniões com 1 pessoa, com 5 ou com 10, que, como já aqui mencionei, podem estar na Malásia, no Chile, na Califórnia  - ou na Quinta da Marinha. 

Apesar da ocupação do tempo, estas videoconferências são uma vantagem. A título de exemplo, se não existisse esta realidade não poderia desenvolver um trabalho que tenho entre mãos com colegas do Brasil, e que é muito importante. A dinâmica perder-se-ia na troca de mails, nas respostas para todos ou que não foram para todas, na dificuldade de expressão escrita de algumas pessoas. Num instante se marca um zoom e, numa hora, decidem-se coisas que requerem rapidez, foco, atenção. Por outro lado, o zoom é, apesar de tudo, menos impessoal: na maior parte das vezes vemos as pessoas, colamos um nome a um rosto. Tudo o resto se perde: o contacto físico, a linguagem não verbal, a decifração da reacção das pessoas a isto ou àquilo.

Esta semana, por ocasião do Dia Internacional da Criança com Cancro, fui convidado para um webinar organizado pela OMS. Pediram-me para falar em inglês durante 2,5 minutos - no máximo 3! O texto que escrevi ocupava uma página e meia de Word, não mais do que isso. Ontem, em conversa com um amigo que foi quadro superior da Unilever, manifestei-lhe o meu stress, o meu cansaço, e disse-lhe (sem ter uma razão muito óbvia por trás) que preferia ter falado para as mesmas 300 pessoas, mas num auditório.  Disse-me que um actual quadro muito sénior da Unilever sente o mesmo: depois de ter reuniões via zoom (ou plataforma semelhante) com colegas / colaboradores fica exausto. 

Há uns dias falei nestas minhas videoconferências e questionei-me sobre o que estou a perder com esta profusão de encontros virtuais. Talvez esteja a perder resistência, força anímica, sei lá eu. Percebi que o problema não é só o facto de serem em inglês, o que exige um esforço adicional a quem não domina a língua. Há qualquer coisa que nos suga a energia.

JdB     

 

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