07 fevereiro 2011

Fórmula para o caos

O mundo tem os olhos posto no Egipto. De facto, é histórico poder assistir a uma gigantesca manifestação (que ainda não é revolução, visto que as elites do poder se mantêm) quase minuto a minuto através dos diversos meios de comunicação. No entanto, é confrangedor observar a destilação de hipocrisia lançada pelos ocidentais. Uns por ignorância, outros por pura demagogia e oportunismo. Muitos dos que acusam os lideres ocidentais de estarem há 30 anos a suportar e apoiar a ditadura de Mubarak, desconhecem profundamente as possíveis consequências de uma tomada de poder por parte de extremistas. Pessoalmente, como já o tenho afirmado, não nutro qualquer simpatia por ditaduras. Creio que a realização de eleições livres e justas, em que todos os partidos possam concorrer, será a forma mais adequada de legitimar o poder. Contudo, é necessário explicar ao povo do ocidente que uma eventual crise petrolífera, um bloqueio do canal do Suez ou uma crescente instabilidade no médio oriente, terão importantes implicações nas suas vidas. Quando o “Zé“ segue no seu carro de manhã para o emprego e ouve, nas noticias, que “ Mubarak nunca teria imposto esta cleptocracia sem o apoio dos EUA“, o “Zé“, de forma imediata, roga pragas aos malvados americanos. Uns dias depois, quando o “Zé“ já não pode seguir no seu carro para o trabalho porque não há gasolina, devido a uma crise que teve origem nos tumultos da terra dos Faraós, o “Zé“ realiza que, afinal o poder ser detido por Mubarak não era tão mau assim, pelos menos, para todos os “Zés“ que se habituaram a um estilo de vida que apenas é possível importando produtos de zonas instáveis. Não quero, com isto, fazer a apologia da manutenção de ditadores amigos, mas apenas trazer à tona os vários cenários pós-revolução. A história ensina-nos que, entre a segurança económico-financeira e a liberdade, as populações optam pela primeira. Tanto no Egipto, como nos EUA e em todo o globo. Recorde-se que aquilo que o povo egípcio reivindica são melhores condições de vida, sendo que a liberdade política é um aspecto secundário. Mas também se sabe que ambos os factores só são atingíveis quando caminham juntos.

Pedro Castelo Branco

3 comentários:

Anónimo disse...

Com risco de você, e todos os leitores deste blogue, me considerarem anarquista, totalmente irrealista e ignorante: eu acho que Portugal beneficiaria se os Portugueses, por junto, se revoltassem contra o governo do Eng Sócrates e afins, à semelhança do Egipto (mas sem a violência). Uma paralização generalizada e pacífica. Mas daquelas inamovíveis, que não quebram até se verem resultados. Menos viagens, menos carros, menos regalias e corrupção, melhor justiça, menos gastos inaceitáveis, melhores escolas, melhores leis (e menos TGV's e aeroportos, claro!), mais trabalho concreto, puro e duro. Não me refiro só a este governo, é também aos últimos em geral. Deviam todos pagar pelo estado a que conduziram o país. As condições de vida neste país estão insuportáveis e não entendo como as pessoas não se revoltam e aceitam imposto sobre imposto, e falta de respeito sobre falta de respeito. Acho incompreensível. Só não sou apologista da violência. Mas que um Gandhi e alguns políticos da fibra do Sá Carneiro seriam muito úteis neste país sem rei nem roque, seriam concerteza! Não conhece ninguém de jeito que nos gostasse de governar? Gosto dos seus comentários sobre a actualidade. pcp

Pedro C Branco disse...

Caro pcp,

Não obstante o estado calamitoso em que se encontra Portugal, sem brio e motivação, com as contas públicas transformadas num buraco sem fundo à vista, onde um Estado papão impede que o mérito seja beneficiado, onde o empreendorimso é suprimido pela avalanche fiscal que derrama sobre as pessoas e empresas, creio que, e ao contrário do Egipto, a melhor e mais eficaz " revolução " que se pode fazer é de 4 em 4 anos numa assembleia de voto perto de si. No entanto, ainda há 15 dias atrás mais de metade dos cidadãos ficaram em casa.

Anónimo disse...

Pois é, caro Pedro, tem razão. Mas é tão revoltante ver o estado miserável em que nos encontramos que não consegui deixar de me pronunciar de uma forma talvez exagerada. Mas que acho incompreensível o desinteresse, a apatia, a falta de garra dos portugueses perante o que os rodeia...acho! Daí a minha revolta e o meu desejo de uma ATITUDE. Neste país não há ATITUDES! Ou pelo menos no sentido de melhorarmos a nossa vida. Enfim, isto dava uma longa conversa. Obrigada. pcp

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