eu sei, eu sei, estou hiper-activo nas teclas. o velho fenómeno de compensação, afastado que está o chocolate. e não fumo (quase). e bebo pouco. vai daí, teclar é mesmo compensação directa. só pode ser. por exemplo, de repente, nesta porcaria de escritório, lembras-te de uns olhos a olhar para ti. e lembras-te, o verbo é outro mas ainda está por inventar, lembras-te (fica este) de dizer que não sabes se há um sentido, um desenho inteligente, um fito, um propósito, que há sempre a opção de não acreditar e começar aqui mesmo, hoje e agora, a partir isto tudo, o que inclui a minha vida e a tua, o coração e o corpo, as mesquinhas danças profissionais, e tudo o mais que, suspeitamos, serve para pouco. mas, lembras-te, logo a seguir de atirar algo como há sempre a outra possibilidade. e que desdenhar essa possibilidade é abandonar a possibilidade de uma beleza ética e estética e o que tu quiseres, mais vocês todos, mais eu todo - sei lá, todos. de repente, lembras-te do rosto e dos olhos - esses instrumentos divinos - e dessa tua expressão isso foi tão bonito. e brilhavas no escuro, como uma derradeira luz no deserto urbano, uma espécie de farol e eu uma espécie de barco em mar agitado e eu olhava para dentro de ti - e se pudesse, por osmose, mergulhava em ti, cindindo-me em milhões de partículas, atómos e matérias luminosas. eu sei lá. sim, eu sei, já tivemos melhores dias. à volta, ardem as constelações, como sempre no verão. cá dentro, arde o diacho do corpo, esse desassosegador permanente. entre uma coisa e outra, a memória de um frase certeira, no momento certo. e os lençóis por testemunha. e a madrugada lá fora, esmagada, uma e outra vez, pela poesia da tua pele na minha pele. se isto é prosa, eu sou poesia. e um coração que ainda sabe a saliva.
gi.
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