09 outubro 2012

Duas últimas

Vivemos num tempo em que, sobretudo na gestão da “cousa pública”, as promessas são as mais das vezes vãs e despudoradas. Há aquelas que até poderiam ser cumpridas, não fora a manifesta incompetência, inépcia ou algum desvario de quem as profere e há aquelas que são manifestamente impossíveis de cumprir/honrar, feitas portanto de má fé e intenção enganosa, em busca de um voto a mais aqui ou de uma qualquer vantagem ali.

Não sei se foi sempre assim, mas tenho a convicção de que pelo menos nunca foi tanto assim. No caso dos eleitos e dos por estes escolhidos, sucede com inusitada frequência que, acossados como nunca pelo tempo ou pela falta dele (pensam eles), pelos implacáveis media que têm uma actividade que não conhece limites ou por entidades cinzentonas mas com mando efectivo, prometem mundos e fundos, quimeras e mais quimeras, e depois é o que sabemos. Desrespeitando em absoluto os destinatários e descredibilizando-se a eles e ao país.

Não lhes ensinaram, ou então esqueceram-no convenientemente, que só devemos prometer o que podemos honrar, porque de alguma forma conseguimos controlar ou no mínimo influenciar. A frase que muitas vezes ouvi a meu pai de que “ é um privilégio raro servirmos um chefe que admiramos” tem também aqui pleno sentido. Pois só se admira quem, entre outras qualidades, cumpre a palavra dada! Ainda existem algumas pessoas desse quilate, daquelas que cumprem com o prometido, porém e infelizmente poucas.

E assistir a tantas promessas incumpridas por certo que não fará muito bem à esfera privada dos nossos compromissos e, pior ainda, não deixará de influenciar negativamente os mais novos, que tenderão a achar tudo isso normal, sobretudo se essas situações, e são muitas, não forem convenientemente explicadas e conversadas.

Hoje trago duas músicas de Rui Veloso. Uma sobre mais uma promessa que não passou disso mesmo, a outra porque é uma música dele que me vai a gosto.
 
Espero que também apreciem.

fq



5 comentários:

Anónimo disse...

Por que é que as promessas se quebram com tanya facilidade? Porque o prometido é de vidro.
SdB(I)

ALA disse...

Belíssimo desabafo. Temos que tentar repensar os exemplos que somos e damos.
Promessa ou compromisso?
Durante uns anos achámos que era a mesma coisa. Hoje em dia são conceitos tão distantes que os decisores e nossa classe política ficaram-se pela ligeireza do
- Jorge Manuel, prometes que não voltas a dar um estalo ao Ruben, prometes?
Assim só conhecem a promessa, feita a correr entre um autocarro e um beijo apressado à porta da escola C+S de um qualquer subúrbio, que era quebrada à primeira oportunidade, porque afinal, o irmão que se preze dá sempre um estalo.

Anónimo disse...

Grande escolha musical! Sou fã do Rui Veloso. A propósito, espectáculo no Coliseu com ele no dia 10 de Novembro! pcp

JdB disse...

Quis comentar longamente a tua excelente dissertação mas acanhei-me face ao comentário que começa por "belíssimo desabafo". Há a redundância, sabes?, e a noção da importância relativa das pessoas...
Abraço, porque gosto muito do Veloso, a acompanhar magníficas palavras do bloguista de serviço.

Maf disse...

Excelente texto, fq .... excelente escolha musical.
De facto, já lá vai o tempo em que a simples palavra, acompanhada de um aperto de mão, tinha mais força que um carimbo ou chancela. Na politica, assusta a facilidade com que os n/ dirigentes dizem e "desdizem", desculpabilizam-se e descomprometem-se. Quando essa facilidade atingir a sociedade civil e, em última instância, o núcleo familiar, estaremos perdidos....
Reitero a expressão da ALA : belissimo desabafo, fq.
Maf

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