09 janeiro 2013

Crónicas de um universitário tardio

O primeiro semestre da pós-graduação está a chegar ao fim. É chegado o momento de entregar trabalhos finais, de receber algum feedback de trabalhos intercalares. Vou também cimentando a opinião que fui formando de tudo - organização, professores, avaliação, etc.

Se soubesse o que sei agora, e recuasse ao momento de decidir da pós-graduação, voltaria a não hesitar. Foi um desafio intelectual estimulante e enriquecedor. Das quatro cadeiras em que me inscrevi - Poéticas Contemporâneas, Arte e Ensaio, Escrita de Comédia e  Ficção Breve - às duas primeiras daria uma nota global alta. Gostei da matéria, gostei dos professores (Profs. Cabral Martins e Gustavo Rubim), aprendi muitíssimo. As outras duas merecem-me uma nota menor, por motivos diversos. Numa gostei da disciplina da leitura a que era obrigado, da oportunidade que me foi dada de conhecer novos autores, ou revisitar alguns, da interpretação menos repentista dos textos lidos. Entregue o trabalho final, recebi uma nota relativamente alta (havia algumas superiores, nomeadamente - e seguramente com justiça - da nossa colega bloguista pcp) mas nenhum feedback. Pura e simplesmente perguntaram-me se tinha gostado da nota, quando o meu interesse era saber o que tinha feito bem e feito mal. Na cadeira de Escrita de Comédia, cujas aulas apreciei menos, por vários motivos, o feedback de dois trabalhos foi profundo e revelou que quem o fez os leu com interesse. De um foi elogioso, de outro crítico. 

Até ao final do semestre - isto é, nas próximas duas semanas - terei de elaborar três trabalhos. A saber: 1) o Panoptismo e a fábrica do futuro, ou como reduzir os níveis de entropia nos sistemas produtivos; 2) a santidade, ou a perfeição dos dias quotidianos e 3) um texto humorístico. Afigura-se-me um desafio demasiado exigente para as minhas parcas capacidades... A ver vamos, como diria o ceguinho.

Abaixo ficam uma imagem e um texto que complementarão o trabalho sobre o panoptismo. Outras informações se seguirão num futuro próximo. 



Na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. Pelo efeito da contraluz, pode-se perceber da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade, as pequenas silhuetas cativas nas celas da periferia. Tantas jaulas, tantos pequenos teatros, em que cada ator está sozinho, perfeitamente individualizado e constantemente visível.

Michel Foucault, in Vigiar e Punir (1975)


JdB

4 comentários:

LuizaA disse...

Curiosidade: foste tu a escolher o tema "panoptismo"?

JdB disse...

LuizaA: obrigado pela visita e pelo comentário.
O seu a seu dono: até há dois meses, talvez, nem sequer sabia da existência desta palavra. Numa conversa com a A., eu, já ligeiramente enervado com a falta de imaginação para o trabalho, falei de fábricas (porque é um tema que me é conhecido) e de um modelo de instalações que tinha visitado um dia. A sugestão do panoptismo - assim como a ajuda imprescindível para a feitura do trabalho - vieram da minha interlocutora. Tentei aprender muito nestes dois meses, com livros que ela me facultou. Temo, no entanto, ser já burro velho...

arit netoj disse...

Muito positivo o balanço, bela aposta! Fico a aguardar estas crónicas certa de que vai surgir algo que vale a pena.
Beijinhos

ACC disse...

Uma vez perguntei-me se a responsabilidade e o conhecimento da técnica faria com que se perdesse a espontaneidade na escrita. Acho que sim e que não. Uns dias sim, outros dias não.
Trata-se, penso eu, de um processo de amadurecimento, tal como as crianças quando percebem que conseguem correr. Já andam bem, mas as primeiras tentativas de corrida fazem delas uns palhacinhos aos tropeções. Um dia, ninguém mais as agarra.
Quanto ao Foucault, há uma frase desse excerto que me encanta

" Tantas jaulas, tantos pequenos teatros, em que cada ator está sozinho, perfeitamente individualizado e constantemente visível."

that´s life e ainda bem que se meteu nesta aventura.

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