11 março 2015

Da honra republicana e liberal

Declarações de interesse:

- não sou amigo de Henrique Granadeiro. Vi-o meia dúzia de vezes, se tanto, em encontros sociais, e trocámos apenas palavras de circunstância;
- não sou inimigo (por oposição a amigo) de Henrique Granadeiro. Reconheço-lhe qualidades, quase exclusivamente por aquilo que vou ouvindo de pessoas cuja opinião prezo.

***

Quando liguei a televisão para ouvir em directo, já HR tinha feito o seu juramento (espontâneo, que ninguém lho pediu, menos ainda o exigiu) enquanto crente e republicano. Reforçou-a depois, em resposta ao deputado do PSD, parece-me. Diria toda a verdade, na sua qualidade de crente e republicano. E também como liberal. Algo que, confesso, me pareceu estranho. Talvez porque ouvi em directo, que sempre tem um impacto diferente. Do resto do seu depoimento não farei comentários, pois não sou suficientemente letrado na matéria.

Mão amiga fez a fineza de me enviar um texto onde o autor afirma: em Portugal e para que conste, católico e republicano são duas condições que se excluem, a não ser para os ignorantes ou para os espertos. Não irei tão longe na ousadia da afirmação, se bem que perceba o sentido por trás das palavras. Acima de tudo fica a minha perplexidade do que é um juramento em nome do republicanismo ou do liberalismo, como se este fraseado descansasse a panóplia de deputados que, representando o povo português, se sentam à volta da mesa interrogando os suspeitos de algo. Imaginemos que no momento seguinte um dos inquiridos jurava dizer a verdade - mais uma vez espontaneamente - em nome de um ateísmo e de uma devoção ao marxismo-leninismo. Em que alteraria isso a substância das declarações ou a forma como elas eram ouvidas? Devemos acreditar mais num do que noutro? E se o terceiro inquirido for monárquico? Haverá risota em surdina ou esgares de ódio? 

Poucas coisas me dão um tédio tão grande como a ideia de ética republicana, uma espécie de título que, aposto num cartão de visita, confere ao seu utilizador uma fama de impoluto. Em nome de que república é que HR jura? Da primeira, assente no regicídio e cujos dirigentes pretendiam erradicar a religião católica de Portugal? Da segunda, apodada de ditadura? Da terceira, que gerou uma quantidade imensa de corruptos e fez aquela descolonização? Qualquer república, em sentido lato, fez mais pelo bem-estar dos povos do que uma única monarquia? E é um garante inequívoco de seriedade?

Parece-me ser claro que algumas decisões tomadas por HR - e cuja responsabilidade ele terá assumido, o que abona em seu favor - prejudicaram a solidez financeira da PT e nesse sentido, os seus accionistas. Imaginemos, por exercício académico e em nome da presunção de inocência, que houve incúria, favorecimento, irresponsabilidade. HR tê-lo-á feito, também, em nome da religião que professa, e das suas opções de republicano e de liberal? 

A palavra de um Homem é a palavra de um Homem. Enquanto pessoas de bem, a palavra de um conservador monárquico deve valer tanto como a de um comunista ateu. A verdade é a verdade, e sou ingénuo suficiente para achar que a hombridade não é privilégio de um casta política ou religiosa.

Termino, dando de novo a palavra ao autor do texto que me chegou às mãos: afirmar-se republicano em Portugal, mesmo nos dias de hoje, tem um conteúdo próprio que não podemos escamotear. Conteúdo diferente dos tempos da Roma antiga, e diferente também do título de 'defensor da república' ostentado pelos reis de Portugal.    

JdB

1 comentário:

Anónimo disse...

Mão amiga fez-me chegar sentença real proferida em Paris ".. isto aqui é uma terra, lá é uma piolheira..." e eu ,"ignorante ou esoerto", percebi o que é um augusto suicidário.
Pressinto no dono deste estabelecimento um "sindrome Romanov" o que não é conservador monárquico há de ser necessariamente um comunista ateu, as melhoras, queira Deus.
E já agora o resultado foi Monarquia 4 - Republica 4. pela República marcaram: Setembrismo, João Franco, Conde Farrobo e Brasil, os goleadores da Monarquia enunciou-os o dono do estabelecimento.
ATM

Acerca de mim

Arquivo do blogue