27 agosto 2015

"O Fado, canção de vencidos"

O filme Fado, História de uma cantadeira, é acompanhado, do princípio ao fim, por um fado particularmente bonito - o Fado de Cada Um, com música de Frederico de Freitas e letra de Silva Tavares. Por questões da tese de mestrado, já devo ter visto este filme algumas dez vezes. Vejo, revejo, volto atrás, fixo uma frase, apanho uma ideia. Sempre, mas sempre, a voz deslumbrante de Amália, nessa altura com 28 anos.

A letra do fado não é uma letra de fado: é o fado em si ou, talvez melhor, a vida de cada um de nós que acredita no destino, na má sorte, em Deus que decide tudo sobre nós, mesmo sabendo, cada um destes "nós", que nada é assim, que o destino somos nós que o construimos, que nada do que nos acontece está escrito nas estrelas.


Fado é sorte
E do berço até à morte
Ninguém foge por mais forte
Ao destino que Deus dá

Que bom seria, poder um dia, trocar-se o fado
Por outro fado qualquer
Mas a gente já traz o fado marcado
E nenhum mais inclemente
Do que este de ser mulher

Bem pensado
Todos temos nosso fado
E quem nasce mal fadado
Melhor fado não terá

Fado é sorte
E do berço até à morte
Ninguém foge, por mais sorte
Ao destino que Deus dá

JdB


1 comentário:

Anónimo disse...

O fado é um paradoxo. Canta a equanimidade mas chora o eu. É os imperadores Antonino Pio e Marco Aurélio, mas enxertado de Calimero. O fadista é um mixordeiro, mas é genial.

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