01 abril 2019

Do auto-conhecimento

Daniel Goleman definiu o auto-conhecimento como um dos cinco componentes da inteligência emocional. O termo é auto-explicativo, pelo que não vale a pena debruçarmo-nos mais sobre ele. 

Ao longo da minha vida fiz vários exercícios de avaliação de auto-conhecimento, nomeadamente em contexto profissional, (também) através de uma ferramenta a que se chamava avaliação 360º. A pessoa em questão avaliava-se a si própria segundo certos critérios, e depois era avaliada - segundo os mesmos critérios - por subordinados, pares e superiores. Lembro-me de um colega, de um nível hierárquico acima do meu, ficar desoladamente surpreendido por perceber que tinha uma ideia de si próprio que não correspondia - ou correspondia muito pouco - à ideia que os outros tinham de si. Não sendo um homem arrogante, considerava que tinha características que, afinal não tinha - ou que a generalidade das pessoas não via...

Todos nós conhecemos pessoas que têm uma ideia errada de si própria, tanto num sentido como noutro. Pode ser um desvio de percepção, como pode ser uma fuga à auto-análise ou um erro propositado, qualquer que seja o motivo. Para essas pessoas o processo de emenda, de correcção, de melhoria pode ser mais difícil, porque partem de uma base errada - ou de base nenhuma... É muito difícil melhorar-se se não se sabe (ou não quer saber-se) em quê. Ou se se acha que pouco há a melhorar. 

Na semana passada jantei com amigos. Um deles, com quem me dou muito bem apesar de ser amizade bastante recente, tem um nível de auto-conhecimento que pode ser quase humorístico. Dizia-me ele: ao contrário da maioria de vocês, eu sou uma pessoa que... , sendo que depois referia aquilo que ele entendia conseguir fazer (irrelevante para o ponto em questão), ao contrário, segundo ele, da generalidade dos outros. A frase em si nada tem de interessante, não fosse o caso de ele ser ver de forma totalmente invertida: ele seria dos que não conseguiria fazer aquilo que acha que conseguiria fazer. A frase tem a graça (sendo inócua) por ser totalmente desprovida de verdade. Ele teria dificuldade em fazer aquilo, mas entende que conseguiria - melhor ainda, que conseguiria, ao contrário de todos os amigos.

Sendo amigo dele, o ponto é humorístico. Não só é curioso o facto de ele se conhecer tão mal, como é curioso o facto de ele estar a mencionar uma qualidade. Isto é, não disse: ao contrário da maioria de vocês, eu tenho um distúrbio obsessivo-compulsivo. O que ele disse foi que tinha uma qualidade que era rara no grupo de amigos. Tanta falta de auto-conhecimento e (de certa forma) vaidade é, no mínimo, interessante. Como é interessante o facto de numa pessoa inteligente e com experiência de vida. Conhecermo-nos bem tem muito que se lhe diga.

JdB 

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