Primeiro pensamento: contam-me que a mãe de Bertrand Russell (3.º Conde Russell, Inglaterra, 1872 - 1970) uma senhora da aristocracia inglesa, só se permitia sentar-se numa cadeira com braços a partir das 19.00h, quando o dia de trabalho (talvez não o dela, sei lá eu...) estava terminado.
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Segundo pensamento: conta-me um professor que, quando era novo (é de 1952) chegou a casa da avó e disse-lhe que tinha visto uma mesa que ficava bem na sala. A avó, num misto de espanto e indignação, perguntou-lhe: mas não está lá uma mesa? Para que havia eu de querer outra?
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O que liga uma história e outra? Uma certa ideia de frugalidade, uma expressão que está tão na moda como bote e milorde. Num caso uma certa frugalidade de comportamento, noutro caso uma certa frugalidade aquisitiva. A segunda história espanta as gerações mais novas (e até uma parte significativa da minha) porque as coisas em geral deixaram de ter uma valência utilitária, para passar a ter uma valência estética. Não se compra porque é preciso, compra-se porque fica bem. Nesse sentido, os armazéns são negócios de tempos ricos, não de tempos frugais. Armazena-se porque sim, não porque faça falta. A frugalidade, expressão a usar-se, é aplicável à alimentação: não por uma questão de pudor do excesso, mas por uma opção estética. As pessoas não se querem gordas porque não é bonito, não porque não faz sentido o excesso. A frugalidade é um iogurte cheio de coisas que fazem bem, não um modelo de vida.
Olho para o texto acima e noto uma certa frugalidade, talvez ao nível da criatividade, discernimento, inteligência. Estou frugal...
JdB
1 comentário:
Este seu pensamento fez-me lembrar na interpretação da gula e da luxúria. São dois pecados capitais que se podem associar com o conceito de abundância.Porém, abundância pode ser um sentimento elevado, tão elevado como os que praticam a serenidade, a plenitude, a conexão com o mundo e com os outros.
Enfim isto tudo para dizer que a frugalidade pode ser confundida com avareza e a abundância com o excesso. No entanto, se formos justos um iogurte cheio de coisas boas, acompanhado com salada de frutas em vez de 3 torradas de pão saloio a boiar em manteiga, pode ser uma filosofia de vida não uma frugalidade. Vive-se na abundância utilitária da procura do equilíbrio entre o corpo são/mente sã e a frugalidade de uma (des)estética absolutamente desnecessária.
Obrigada por fazer pensar em improváveis.
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